1. - Introdução
Siracusa, é uma cidade muito rica em história e cultura, que se localiza na costa sudeste da Sicília. Ela é um verdadeiro testemunho das civilizações que se sucederam no Mediterrâneo. Fundada por colonos gregos em 734 a.C., tornou-se uma das cidades-estado mais influentes da Grécia Antiga, conhecida por sua riqueza, poder e magníficas construções. Siracusa floresceu durante o período da Grécia Clássica. Posteriormente, ao longo dos séculos, Siracusa foi palco de inúmeros eventos históricos, sob o domínio de romanos, bizantinos, árabes e normandos, cada um deixando sua marca indelével na cidade.
2. - Resumo Histórico - Pré história, gregos e romanos
2.1 - Pré-história (3.000 aC a 734 aC)
A região onde Siracusa foi fundada já era um centro de atividade humana muito antes da chegada dos gregos. Os Sicani, Sículos, Elímios e as culturas de Castelluccio e Thapsos deixaram um rico legado arqueológico que pode ser visto nas coleções do Museu de Siracusa. Esses povos contribuíram para o desenvolvimento cultural e tecnológico da região, criando uma base sobre a qual os gregos construíram a próspera cidade de Siracusa.
2.1 Fundação e Era Grega (734 a.C.-212 a.C.)
Siracusa foi fundada por colonos gregos liderados por um nobre coríntio chamado Arquias. Rapidamente prosperou, graças à sua posição estratégica e à fertilidade de suas terras, tornando-se uma das cidades mais poderosas do mundo grego. Durante este período, destacou-se pela sua cultura, economia e força militar, chegando a rivalizar com Atenas e Cartago.
Siracusa foi a segunda cidade da Sicília fundada pelos gregos em 734 a.C., logo depois de Naxos em 735 a.C. Outras cidades foram Catânia, Leontinoi, Megara Hiblaea, Zancle, Selinunte, Himera, Gela e Agrigento.
Durante todo o período de sua fundação até ser conquistada pelos romanos Siracusa foi uma cidade estado independente.
Mapa Siracusa - Corinto |
Os principais personagens dessa época foram Arquias (fundador), Dionísio, o Velho (tirano), Platão (filósofo que visitou a cidade).
2.1 - Os principais eventos da era grega em Siracusa
Os século V e IV aC, também chamada de era clássica, foi o tempo em que os gregos se uniram e derrotaram a tentativa de invasão da Pérsia, e que Atena era uma grande potência e influenciava muitos povos gregos ao redor com o seu modo de vida, com o desenvolvimento da sua Democracia, as escolas filosóficas, ...,. Esse período foi o tempo de Péricles, da construção do Pathernon, período em que viveu Sócrates, Platão e Aristóteles.
Entretanto, esse período trouxe a tona a rivalidade com Esparta, as disputas entre as ligas de Delos (cidades lideradas por Atenas) e peloponeso (cidades lideradas por Esparta). Essa rivalidade acabaria em uma guerra de 31 anos, também chamada de guerra do Peloponeso e que seria o início do declínio de Atenas e todo o mundo o grego.
Nessa época começavam os crescimentos e tentativas de expansão de Cartago para a Europa, e de Roma em oposição em direção à Asia e África.
Do ponto de vista de Siracusa podemos apontar como eventos importantes:
- Batalha de Himera (480 a.C.): Siracusa derrotou a frota cartaginesa, marcando o auge de seu poder militar na antiguidade.
- Batalha de Siracusa (415 aC a 413 aC) - Na guerra do Peloponeso, principalmente disputa entre Atenas (Liga de Delos) contra Esparta (Liga do Peloponeso), Atenas que estava sofrendo muitas derrotas resolveu atacar Siracusa pensando em expandir o seu poder. Atenas foi fragorosamente derrotada na guerra contra Siracusa. Siracusa era aliada de Corinto que por sua vez era da Liga do Peloponeso. Atenas achou que era uma ótima oportunidade e subestimou a capacidade de Siracusa.
- Cerco e conquista de Siracusa (213-212 a.C.): A cidade resistiu ao cerco romano por quase dois anos, no meio da 2a guerra púnica, destacando-se pela genialidade de Arquimedes em defesa da cidade. No final Siracusa foi derrotada e Arquimedes foi morto.
2.2 - A história de Dionísio e Platão em Siracusa
Dionísio I, também conhecido como Dionísio, o Velho, foi tirano de Siracusa de 405 a.C. até sua morte em 367 a.C. Sua governança ocorreu em um período crítico da história grega, marcado por conflitos internos e externos, e sua liderança teve um impacto significativo na propagação das ideias e da civilização grega, especialmente no contexto da Sicília e do Mediterrâneo ocidental.
Nessa época (405 a.C. a 380 a.C.) Atenas entava em um período de transição e recuperação, tentando reconstruir sua influência após a derrota na Guerra do Peloponeso. A cidade estava sob um regime democrático, com uma política externa focada em equilibrar o poder na Grécia e resistir à hegemonia espartana.
Importância na Propagação das Ideias e Civilização Grega
Dionísio I desempenhou um papel crucial na expansão do poder e da influência grega no Mediterrâneo. Ele transformou Siracusa em uma das cidades-estado mais poderosas do mundo grego, rivalizando com Atenas e Esparta em termos de poder militar e influência cultural. Sob seu governo, Siracusa não apenas consolidou seu domínio sobre a Sicília, mas também estendeu sua influência sobre partes do sul da Itália e do Mar Adriático, servindo como um importante centro de difusão da cultura grega.
Dionísio também foi um grande patrono das artes e da literatura, atraindo poetas, filósofos e artistas para a sua corte.
Platão visitou Siracusa, por várias vezes ao longo de sua vida, e essas visitas tiveram um impacto significativo tanto para ele quanto para a história da filosofia ocidental. A primeira visita de Platão a Siracusa ocorreu por volta de 387 a.C., e as razões e consequências dessas visitas são multifacetadas, envolvendo tanto questões pessoais quanto filosóficas.
Estátua de Platão, Atenas, HistoriacomGosto |
Razões para a Visita
1. Interesse Filosófico e Político: Platão estava profundamente interessado na aplicação prática de suas ideias filosóficas, especialmente suas teorias sobre a governança ideal e a justiça. Ele viajou para Siracusa com a esperança de influenciar o governo da cidade-estado e implementar suas ideias sobre a "Realeza Filosófica", onde os reis seriam filósofos ou os filósofos se tornariam reis.
2. Convite de Dion: Dion, cunhado e amigo de Platão, era um membro influente da corte de Dionísio I, o tirano de Siracusa. Dion era um admirador das ideias de Platão e acreditava que a filosofia do ateniense poderia melhorar o governo e a sociedade de Siracusa.
Importância da Visita
1. Tentativas de Reforma: Platão tentou, sem sucesso, aplicar suas ideias filosóficas ao governo de Siracusa, especialmente durante as suas interações com Dionísio I e, mais tarde, com Dionísio II. Suas tentativas de reforma enfrentaram resistência e acabaram falhando, mas essas experiências forneceram a ele uma compreensão prática dos desafios de aplicar ideais filosóficos na política real.
2. Influência sobre Platão e sua Filosofia: As experiências de Platão em Siracusa tiveram um impacto profundo em seu pensamento filosófico. Após suas visitas, ele desenvolveu ainda mais suas teorias sobre a natureza da liderança e da justiça, que foram expressas em diálogos posteriores, como as "Leis" e a "República". A realidade complexa e muitas vezes decepcionante da política em Siracusa pode ter ajudado a moldar sua visão sobre a natureza humana e a sociedade.
Livro "República" de Platão, quadro de Rafael, Capela Sistina |
3. Relacionamento com Dion: A relação de Platão com Dion foi crucial para suas visitas a Siracusa. Após a morte de Dionísio I e a ascensão de Dionísio II, Dion e Platão tentaram influenciar o jovem tirano, mas sem sucesso. A eventual expulsão de Dion e o subsequente conflito político em Siracusa destacaram os desafios de implementar reformas filosóficas em um ambiente político volátil.
4. Legado Filosófico e Político: As tentativas de Platão de aplicar suas ideias em Siracusa são um testemunho de seu compromisso com a ideia de que a filosofia poderia e deveria ter um papel direto na governança e na melhoria da sociedade. Essas experiências reforçam a importância da relação entre filosofia e prática política, um tema que continua relevante até hoje.
Em resumo, as visitas de Platão a Siracusa são um episódio fascinante na história da filosofia, demonstrando os desafios e as complexidades de tentar aplicar ideais filosóficos à prática política. Essas experiências não apenas influenciaram profundamente o pensamento de Platão, mas também oferecem lições valiosas sobre a interação entre filosofia, poder e sociedade.
3 - Presença e Importância de Hierão II governante de Siracusa e a genialidade de Arquimedes na Ciência
3.1 - Hierão II
Hierão II de Siracusa: Papel e Importância
Hierão II (c. 306 – 215 a.C.) foi um dos governantes mais notáveis de Siracusa, reinando de 270 a.C. até sua morte. Seu governo é frequentemente lembrado como um período de prosperidade e estabilidade para a cidade. Abaixo, detalho os aspectos mais importantes de seu reinado, suas políticas de desenvolvimento, alianças e sua relação com Arquimedes.
Reinado de Hierão II
Hierão II começou sua carreira como um comandante militar e, após uma série de vitórias, foi proclamado rei de Siracusa em 270 a.C. Ele conseguiu consolidar seu poder e estabilizar a cidade, que havia passado por períodos de turbulência política e militar.
Desenvolvimento Econômico
- Agricultura: Hierão II implementou reformas agrárias que aumentaram a produtividade agrícola. Ele incentivou o cultivo de terras e a construção de sistemas de irrigação, o que levou a um aumento significativo na produção de grãos e outros produtos agrícolas.
- Comércio: Sob seu governo, Siracusa tornou-se um importante centro comercial no Mediterrâneo. Hierão II estabeleceu tratados comerciais com várias cidades-estado e reinos, promovendo o comércio e a prosperidade econômica.
- Moeda : Hierão II introduziu uma nova moeda, o "decadracma", que ajudou a estabilizar a economia e facilitou o comércio.
Infraestrutura
- Construções Públicas: Hierão II investiu em grandes projetos de construção, incluindo teatros, templos e aquedutos. Essas obras não só embelezaram a cidade, mas também melhoraram a qualidade de vida dos cidadãos.
- Fortificações: Ele reforçou as defesas de Siracusa, construindo novas muralhas e fortalezas para proteger a cidade contra invasões.
Alianças e Relações Externas
Aliança com Roma
- Primeira Guerra Púnica: Durante a Primeira Guerra Púnica (264-241 a.C.), Hierão II inicialmente apoiou Cartago, mas após uma série de derrotas, ele mudou de lado e formou uma aliança com Roma em 263 a.C. Essa aliança foi benéfica para Siracusa, garantindo a proteção romana e permitindo que a cidade mantivesse sua autonomia.
- Tratado de Paz: O tratado de paz com Roma foi um dos fatores que garantiram a estabilidade e a prosperidade de Siracusa durante o reinado de Hierão II.
Influência no Desenvolvimento de Siracusa
Aspectos Positivos
- Prosperidade Econômica: As reformas agrárias e o incentivo ao comércio levaram a um período de grande prosperidade econômica.
- Estabilidade Política: A aliança com Roma e as políticas internas de Hierão II garantiram um longo período de estabilidade política.
- Crescimento Cultural: O reinado de Hierão II foi marcado por um florescimento cultural, com investimentos em artes, teatro e ciência.
Aspectos Negativos
- Dependência de Roma: A aliança com Roma, embora benéfica a curto prazo, criou uma dependência que eventualmente limitou a autonomia de Siracusa.
- Centralização do Poder: A centralização do poder em torno de Hierão II pode ter limitado a participação política dos cidadãos e criado uma estrutura de governo mais autocrática.
Relação com Arquimedes
Hierão II tinha uma relação próxima e de grande respeito com Arquimedes, o famoso matemático e inventor. Arquimedes era um cidadão de Siracusa e trabalhou diretamente para Hierão II em várias ocasiões.
Contribuições de Arquimedes
- Invenções Militares : Durante o reinado de Hierão II, Arquimedes desenvolveu várias invenções militares, como catapultas e o famoso "raio da morte" (espelhos ustórios), que supostamente usava espelhos para concentrar a luz solar e incendiar navios inimigos.
- Problemas de Engenharia : Arquimedes também ajudou a resolver problemas de engenharia, como a construção de máquinas para levantar grandes pesos e sistemas de irrigação.
- Coroa de Ouro : Uma das histórias mais famosas é a do teste da coroa de ouro, onde Arquimedes utilizou o princípio da flutuabilidade para determinar se a coroa de Hierão II era feita de ouro puro ou adulterada com prata.
Conclusão
Hierão II foi um governante visionário que trouxe prosperidade e estabilidade a Siracusa através de suas políticas de desenvolvimento econômico, alianças estratégicas e investimentos em infraestrutura. Sua relação com Arquimedes não só beneficiou a cidade em termos de avanços tecnológicos e científicos, mas também deixou um legado duradouro na história da ciência. No entanto, a dependência de Roma e a centralização do poder também tiveram suas desvantagens, limitando a autonomia de Siracusa a longo prazo.
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3.2 - Arquimedes - O gênio da física de alavancas, polias e hidrostática.
Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.) é uma das figuras mais notáveis de história da ciência. Nascido em Siracusa, Sicília, então uma cidade-estado grega, Arquimedes é frequentemente considerado o maior matemático da antiguidade e um dos maores matemáticos de todos os tempos. Sua vida e obra tiveram um impacto profundo não apenas em sua cidade natal, mas em todo o mundo antigo e na ciência subsequente.
Arquimedes, pintura de Giuseppe Nogari |
Vida
Embora detalhes específicos sobre a vida de Arquimedes sejam escassos e muitas vezes baseados em relatos posteriores, sabe-se que ele nasceu em Siracusa e passou a maior parte de sua vida lá. Ele possivelmente estudou em Alexandria, no Egito, onde teve contato com a escola de matemática fundada por Euclides. Arquimedes pertencia a uma família da nobreza local; seu pai, Fídias, era um astrônomo.
3. - Heraça Arqueológica grega e romana em Siracusa
3.1 - Parque Arqueológico de Siracusa ou "Neápolis"
"Neápolis" é uma palavra de origem grega que significa "cidade nova". Ela é composta por duas partes: "néa" (νέα), que significa "nova", e "pólis" (πόλις), que significa "cidade". Este termo foi usado na antiguidade para nomear ou designar partes mais novas ou recém-expandidas de cidades já existentes, ou mesmo para denominar novas colônias urbanas.
No contexto de várias cidades antigas, especialmente aquelas com longos períodos de ocupação e desenvolvimento, como Siracusa na Sicília, "Neápolis" referia-se à parte mais recentemente desenvolvida ou expandida da cidade em contraste com áreas mais antigas, como a "Acrópole" (a parte mais alta, muitas vezes fortificada, da cidade) ou outras regiões estabelecidas anteriormente.
Em Siracusa, a Neápolis é uma das cinco divisões arqueológicas que compõem a cidade antiga. Durante o período grego e romano, essa área era um vibrante centro urbano, repleto de monumentos públicos, teatros, e outras estruturas significativas. Hoje, o Parque Arqueológico da Neápolis em Siracusa é um dos sítios arqueológicos mais importantes, abrigando muitas das ruínas mais famosas da cidade, como o Teatro Grego, o Anfiteatro Romano, a Orelha de Dionísio e o Altar de Hierão II. Este local não apenas destaca a riqueza histórica e cultural de Siracusa, mas também serve como um testemunho da importância da cidade nos períodos grego e romano.
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La cultura de Thapsos