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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Split, uma história romana na Croácia

1. - A Origem de Split


A origem de Split está ligada a Diocleciano, Imperador Romano que governou entre 284 e 305 d.c., nascido em Salona, antiga cidade da Dalmácia. Ele decidiu construir na área de Split,  um palácio para seu descanso após a sua retirada da vida política. Salona dista poucos kilometros do local do Palácio. 


Visão atual de Split, com o Palácio de Diocleciano à beira-mar, a partir da colina de Marjan

Posição Geográfica

Split fica na costa do Adriático, no centro da Dalmácia. Embora cercado pelo mar, Split também tem limite com as montanhas circundantes, Mosor no nordeste, Kozjak no noroeste e Marjan Hill que é um dos símbolos mais importantes da cidade pelo lado oeste. Split também é cercado pelas ilhas Brač, Hvar, Šolta e Čiovo.

Split é a maior cidade da Dalmácia, a segunda maior cidade da Croácia e, de acordo com o último censo realizado em 2011, tem quase 180 mil habitantes. É o segundo maior porto de carga croata, mas também um dos maiores portos de passageiros do Mediterrâneo.  



2. - A era de Diocleciano


2.1 - A Tetrarquia

Caio Aurélio Valério Diócles Diocleciano foi um imperador romano cujos dados de nascimento são incertos, mas provavelmente nascido em Salona, província romana na Dalmácia, no dia 22 de dezembro entre 243 e 245. 



Ele governou de c. 284 a 305. Era de origem humilde. Filho de pai escriba e ex-escravo, era comandante da escolta imperial antes de ascender ao poder. Isso ocorreu após a morte do imperador Caro e seu filho Numeriano. Ele foi então proclamado imperador pelo exército romano. 

Como uma forma de manter o poder de uma forma estável, Diocleciano introduziu o sistema da Tetrarquia formado através de uma aliança política e familiar que dividia o império entre quatro titulares. Dois foram denominados Augustos e outros dois Césares.

Diocleciano era o Augusto sênior, Maximiliano que obteve importantes vitória foi nomeado Augusto, e Galério e Constâncio foram eleitos Césares após se casarem com as filhas de Diocleciano e Maximiliano.

Diocleciano ficou responsável pelo Oriente e o Egito, Galério ficou responsável pela Grécia e  pelas províncias danubianas, Maximiano pela Itália e a África e Constâncio pelas províncias ocidentais e Alpes Gálicos. A unidade do colégio imperial era mantida por Diocleciano.

O período foi marcado pela adoção de amplas reformas no setor público as quais, visavam a restauração e reorganização do Estado e a manutenção do exército. 

2.2 - Perseguição aos cristãos


Uma outra característica do período foi uma forte perseguição aos Cristãos, que praticavam sua religião sem reconhecerem as divindades e cultos da religião romana, que tinham o imperador como figura divina.

A perseguição de Diocleciano ou "Grande Perseguição" foi a última e talvez a mais sangrenta perseguição aos cristãos no Império Romano. Em 303, o imperador Diocleciano e seus colegas Maximiano, Galério  e Constâncio Cloro emitiram uma série de éditos em que revogavam os direitos legais dos cristãos e exigiam que estes cumprissem as práticas religiosas tradicionais.


Última prece dos cristãos, William Walters, 1863
A perseguição variou em intensidade nas várias regiões do império: as repressões menos violentas ocorreram na Gália e Britânia, enquanto que as mais violentas se deram nas províncias orientais. Embora as leis persecutórias foram sendo anuladas por diversos imperadores nas épocas subsequentes, tradicionalmente o fim das perseguições aos cristãos foi marcado pelo Édito de Milão de Valério Licínio e Constantino, o Grande.

Diocleciano desejava inspirar um ressurgimento religioso a nível geral. Como parte dos seus planos para o ressurgimento, Diocleciano investiu em edifícios religiosos. Diocleciano auto-proclamou-se a um nível equiparável ao do líder do panteão romano, Júpiter, enquanto que o seu co-imperador, Maximiano, se autoproclamou como o próprio Hércules.  Esta ligação entre divindades e imperador ajudaria a legitimar as reclamações dos imperadores em relação ao poder.

Diocleciano também Construiu templos a Ísis e Serápis em Roma e um templo do Sol em Itália. Além disso, Diocleciano mostrou uma maior preferência pelos deuses que se encarregavam da segurança de todo o Império, em lugar das divindades locais das províncias.

Éditos


Primeiro édito: Em 23 / 24 de fevereiro de 303 Diocleciano ordenou que a igreja cristã recentemente construída em Nicomédia fosse arrasada, as escrituras queimadas e apoderou-se dos seus tesouros. Essa data foi referenciada pelos romanos como "Terminalia". Seria o dia final da religião cristã;

Os outros éditos confirmariam a obrigatoriedade do culto às divindades romanas.

Santos Mártires perseguidos por Diocleciano 


Nessa época, São Sebastião, Santa Luzia, Santa Inês,e os Papas Marcelino e Marcelo I foram alguns dos mártires que padeceram sob  Diocleciano.

A perseguição de Diocleciano acabou por se tornar fracassada.


São Sebastião, Marco Palmezzano, 1515

Segundo a famosa frase de Tertuliano, o sangue dos mártires era a semente da Igreja. Um exemplo é a epístola escrita por Inácio de Antioquia, em 107, desejando o martírio:
Escrevo a todas as Igrejas e a todas inculco que de bom grado morrerei por Deus, a não ser que vós mo impeçais. Suplico-vos, não mostreis uma boa vontade exagerada comigo. Permiti-me ser pasto de feras selvagens, pois através delas ser-me-á permitido chegar a Deus. Sou o trigo de Deus e serei moído pelos dentes das feras selvagens, para que possa ser tido como o puro pão de Cristo [...] Rogai por mim a Cristo para que, por estes instrumentos, possa eu ser oferecido em sacrifício a Deus.

2.3 - A retirada  de Diocleciano


Após o seu aniversário de vinte anos de governo, Diocleciano deixa Roma e assume o consulado em 304, em Ravena. Ele passou o verão na fronteira do Danúbio no ano de 304, e sua saúde apresentava sinais de fraqueza.  Diocleciano só apareceu em público novamente no dia 1º de março de 305, em Nicomédia, com os  efeitos de sua doença ainda mais aparentes. 

No dia 1º de maio de 305, Diocleciano convocou uma assembleia de oficiais e soldados , no qual ele entregou uma carta em que se dizia velho e doente para comandar o império e que deveriam confiar este cargo para alguém mais jovem. 

Após esse ato,  Diocleciano foi para o palácio que havia construído em Split na costa de Dalmácia, local onde manteve uma vida fora dos problemas relacionados ao império. 

Diocleciano morreu de uma maneira incerta, suicídio ou doenças podem ter sido as causas, os anos estipulados são 311 e 312.

3. - Split antiga - Palácio de Diocleciano


3.1 - Resumo histórico


Por ordem de Diocleciano a construção do palácio começou em 293, de modo a estar pronto quando de seu afastamento da vida política do império em 305. O lado sul do palácio fica defronte ao mar, suas muralhas têm uma extensão de 170 a 200 m e uma altura de 15 a 20 m, e o complexo todo ocupa uma área de 38,000 m².



Fotografia de E. Hébrard and J. Zeiller, Spalato, le Palais de Dioclétien, Paris, 1912



Esta grande estrutura já estava abandonada quando os primeiros cidadãos de Split fixaram residência na parte de dentro de suas muralhas.

Após a morte de Diocleciano o palácio sediou escritórios administrativos e serviu como residência do governador. Entre 615 e 639, os refugiados da cidade de Salona, destruída pelos ávaros, converteram o interior do palácio num vilarejo. OS ricos ficaram nos aposentos do imperador e os mais pobres, nos andares superiores, nas torres e acima dos portões.

Ao longo dos séculos, aquela comunidade cresceu e ocupou as áreas em torno do antigo palácio, mas este constitui, ainda hoje, o centro da cidade, ainda habitado, com lojas, mercados, praças e a Catedral de São Dômnio (construída reaproveitando a estrutura do antigo Mausoléu de Diocleciano) inseridos nos corredores, pisos e muros do antigo palácio.

Ao longo de sua história, Split foi governada por Roma, pelo Império Bizantino e, intermitentemente, pela nobreza croata e húngara. Em 1420, quem assumiu o controle foi a República de Veneza, que permaneceu no comando até 1797, quando perdeu  para a Áustria-Hungria. No período de 1806 a 1813, a cidade esteve sob controle napoleônico.

Com o tempo, Split tornou-se um importante porto, com rotas para o interior através do passo de Klis.

3.2 - O Palácio


a) Maquete do palácio atual


Nessa maquete vemos o palácio / cidade, cercado por suas muralhas e sobressaindo-se a torre da catedral de São Dônio. A catedral aproveitou toda a estrutura circular do Mausoléu de Diocleciano. A torre do campanário foi uma construção posterior.




b) As quatro entradas

O palácio tem quatro entradas. A principal, essa mostrada na foto, chama-se "portão de ouro". O portão tinha torres e elementos decorativos acima dos arcos. Ele impressiona pela grandiosidade do muro de entrada. As demais são chamadas de "portão de prata", "portão de Latão" e "portão de ferro".




Embora seja simples e voltado para o mar, o portão de latão se abre para a fachada mais bonita do palácio. Ao lado do portão de prata há um mercado de frutas e legumes. E no portão de ferro tem o campanário românico muito antigo. 


c) As ruas e as moradias






d) O Peristillo


Um peristilo assemelha-se a um corredor/ salão coberto e circundante, aberto lateralmente através de uma ou mais fiadas de colunas, característica típica nos templos gregos. 

No Império Romano, as casas dos cidadãos abastados também possuíam um peristilo.





e) Catedral de São Dônio / Mausoléu de Diocleciano


Originalmente mausoléu de Diocleciano, essa catedral foi consagrada no século VII, quando o sarcófago contendo o corpo do imperador foi removido e substituído pelos restos mortais de São Dônio, um bispo do século III que foi martirizado em consequência da perseguição ordenada por Diocleciano. 


Estrutura Original e O Campanário


A estrutura é considerada a catedral católica mais antiga do mundo que não foi reconstruída em grande escala. Desde que foi construída ela permanece inalterada, exceto pela construção do campanário românico, erigido entre os séculos XII e XVI.


Parte Interna



Os detalhes da Igreja 








Antiga Cripta agora Capela de Santa Luzia


No local que era a cripta do Mausoléu de Diocleciano, agora é uma capela dedicada à Santa Luzia, que foi martirizada no período, por ordem do imperador.


f) O Vestíbulo


O Vestíbulo era a antecâmara dos apartamentos imperiais, onde os visitantes esperavam a presença do imperador. Era um edifício de forma quadrada, por fora, situado imediatamente atrás da porta de entrada ao sul do Peristilo.





Dentro, o vestíbulo se apresentava como una grande rotunda, de 12 m de diámetro e de 17 m de altura, que inicialmente estava coberta com uma cúpula, hoje inexistente, que era inteiramente decorada de mosaicos e mármores.

g) O Templo de Júpiter / Batisterio de São João


O templo de Júpiter era um edifício retangular construído em um pódio, com quatro colunas em estilo coríntio. Nada resta da varanda e suas colunas, mas a parte fechada do templo  está bem preservada. Sua entrada é voltada para o Peristilo e a porta de entrada é ricamente esculpida.

Na idade média, o templo foi transformado em um batistério. No seu interior foi colocado uma pia batismal que ainda se encontra no local. A estátua de São João, mostrada abaixo, é de Ivan Mestrovic e foi colocada antes da segunda guerra mundial.     



Porta de Entrada
Estátua de São João

Pia batismal

h) Aposentos privados / Museu Etnográfico


O Museu etnográfico foi criado em 1910 e a partir de 2005 está sediado dentro do Palácio de Diocleciano em uma área que era destinada a aposentos privados do Imperador. Essa área que fica de frente para o mar, com o passar do tempo tinha se tornado uma zona degradada de Split. Ela foi recuperada após uma reurbanização.

O Museu etnográfico apresenta uma bonita coleção de trajes típicos da Dalmácia, tanto femininos como masculinos.     










A pintura retratando o povo e seus costumes;



4. - Split no século XX


Com o término da Primeira Guerra Mundial e a dissolução do Império Austro-Húngaro, a província da Dalmácia, Split incluído, tornou-se parte do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos posteriormente transformado em Iugoslávia em 1929. 


Em abril de 1941, após a invasão da Iugoslávia pelas forças do Eixo, Split foi ocupada pela Itália e formalmente anexada um mês depois. Em setembro de 1943, com a rendição da Itália, a cidade foi liberada parcialmente (os alemães voltaram a ocupar) e somente em 26 de outubro de 1944 liberada completamente. 


Após a Segunda Guerra Mundial, Split tornou-se parte da Croácia, a qual era, por sua vez, uma república federada pertencente à Iugoslávia socialista. A cidade continuou a crescer e a desenvolver-se como um centro comercial e cultural importante, atraindo grande número de migrantes rurais para as novas fábricas, estas parte de um esforço de industrialização em larga escala. No período entre 1945 e 1990, a população triplicou e a cidade expandiu-se, tomando toda a península.



Quando a Croácia declarou a sua independência em 1991, Split abrigava uma grande guarnição do Exército Popular Iugoslavo, que guardava as instalações e o quartel-general da Marinha Iugoslava (JRM). Seguiram-se meses de um impasse tenso entre o exército iugoslavo e as forças militares e policiais croatas, com vários incidentes. O mais sério ocorreu em novembro de 1991, quando a JRM, inclusive o contra-torpedeiro Split, bombardeou a cidade - a única ocorrência na história em que uma belonave bombardeou uma cidade com o seu nome.

4. - Split atual, fora dos muros


A Riva (Beira mar) de  Split

Desde a época de Diocleciano,  ainda sem as palmeiras,  com certeza a avenida a beira-mar já devia ser uma área bastante agradável. Atualmente, no verão, tanto de dia como de noite, após as visitas culturais, é o lugar para passear, sentar, e contemplar a natureza. 





Praça da República (Prokurative)

Criada no século XIX no estilo  neo-renascentista veneziano, é a maior e mais elegante praça da cidade. Representa a Split moderna e próspera sem esquecer suas ligações com o império veneziano. Suas arcadas e galerias vermelhas abrigam bares e restaurantes enquanto os prédios são sedes de várias organizações.





Igreja de São Francisco
Torre do Relógio





A Colina de Marjan

A colina de Marjan é um lugar privilegiado. Sobe-se a pé através de uma escadaria em um percurso de cerca de 20 minutos. Ela tem praia de três lados. Quando chegamos no topo, conhecido como Vidilica (tem um café com esse nome), temos a melhor vista da báia de Split. De lá também temos trilhas e grutas que remetem ao início do cristianismo na região.




As praias da Cidade

Split tem também os locais com praia para banhistas. A praia de Kasjuni é uma das preferidas e o seu acesso é feito pelo morro de Marjan.





4. - Referência


www.cro-vacation.com - Posição geográfica
www.wikipedia.com - Split / Diocleciano / Croácia
Guia Visua da Folha de São Paulo - Croácia
Fotos: HistóriacomGosto