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segunda-feira, 24 de julho de 2017

Rugendas - Representando o Brasil Idealizado

I - Abertura do Brasil às expedições europeias


Até a vinda da corte portuguesa em 1808, o Brasil viveu um período de isolacionismo de três séculos, intencionalmente deliberado pelo reino Português, que queria a eternização da exploração colonial e a eterna dependência política e econômica. 

Com a vinda da corte portuguesa, uma das primeiras medidas necessárias foi a abertura dos portos ao comércio das nações amigas, condição para manter o fluxo de divisas que sustentaria o reino português. 

No mundo inteiro acontecia nessa época a explosão das luzes, a filosofia dos iluministas com a valorização do homem, da razão e quebra das relações de dominação feudais. 

Explorações de cientistas naturalistas já aconteciam nos países do domínio espanhol mas permaneciam interditadas no domínio português. 

Floresgta Virgem por Rugendas
Floresta Virgem, Rugendas


Com a abertura do comércio, o novo prestígio alcançado pela colônia enquanto sede da monarquia portuguesa e a troca de informações entre os viajantes, despertaram a curiosidade de pessoas e organizações quer fossem de natureza diplomática, comercial, artística ou mesmo aventureira. 

O  importante, é que esses viajantes descortinaram ao olhar europeu uma renovada concepção sobre a paisagem, a sociedade e a cultura do Novo Mundo. “A curiosidade tão longamente refreada pode agora expandir-se".

As expedições científicas que começaram a acontecer no período oitocentista tinham como objetivo a aplicação do pensamento racional; a dessacralização da natureza; a utilização do pensamento científico, como substituto laico da religião e  a idéia de progresso,  como consequência inevitável da intervenção do homem sobre a natureza ” .

Foi nesse ambiente que veio ao Brasil em 1816, a Missão artística francesa convidada por Dom João VI, e em 1824 a expedição de Langsdorff financiada em parte pelo Czar russo e parte pelo recém criado império brasileiro. 

II - João Maurício Rugendas



retrato de Rugendas  Johann Moritz Rugendas (Augsburgo, 29 de março de 1802 — Weilheim an der Teck, 29 de maio de 1858) foi um pintor alemão que viajou por todo o Brasil durante o período de 1822 a 1825, pintando os povos e costumes que  ele pode encontrar. Rugendas era o nome que usava para assinar suas obras. Cursou a Academia de Belas-Artes de Munique, especializando-se na arte do desenho.

Nasceu em uma família de artistas em Augsburgo,  após as Guerras Napoleônicas, uma cidade do recém-criado Reino da Baviera em 1806. Estudou pintura com Albrecht Adam e posteriormente na Academia de Belas Artes de Munique. Integrou como desenhista e pintor a missão do barão de Georg Heinrich von Langsdorff e permaneceu no Brasil três anos.

Motivado pelo naturalista Alexander Humboldt (1769-1859) em Paris, Rugendas viajou para o México em 1831, com projeto de viagem pela América com objetivo de reunir material para nova publicação.


III. - Langersdorrf


O barão Georg Heinrich von Langsdorff nasceu em Wöllstein, Ducado de Nassau, 18 de fevereiro de 1774.  Ele foi médico, naturalista e explorador, e tendo se naturalizado russo, foi também diplomata desse país no Brasil.


 gravura com o Barão de Langesdorf Em São Petersburgo, foi nomeado cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, por Alexandre I. Chegou ao Rio de Janeiro em 1813, e lá levou uma vida intensa e ativa, estudando história natural. Consta que apenas de borboletas chegou a reunir perto de 1600 espécies. Publicou em colaboração com F.D.L. von Fischer os resultados de uma pesquisa em Santa Catarina: "Plantes recueillies pendant le voyage des Russes autour de Monde".

Em 1816, seguiu com Saint- Hilaire em viagem por Minas Gerais, pernoitaram na casa do amigo Wilhelm Ludwig von Eschwege em Vila Rica, foram juntos até o Inficionado, no Santuário do Caraça, donde retornou. 

Em 1820 Langsdorff voltou para a Europa onde publicou em 1821 o livro, traduzido para o português por A. M. de Sampaio,  Memórias sobre o Brasil, para servir de guia àqueles que nele dewejavam se  estabelecer (Rio, Silva Porto, 1822).

Por volta de 1821, em São Petersburgo, foi nomeado barão. No ano seguinte, o agora barão de Langsdorff retornou ao Brasil, agora não como explorador, mas sim na qualidade de embaixador do czar da Rússia no Rio de Janeiro.

Langsdorff conseguiu convencer o Czar russo a patrocinar uma missão científica de exploração ao Brasil, a qual se iniciaria em 1824.  

IV - A Expedição de Langsdorff


A Expedição Langsdorff foi uma expedição russa organizada e chefiada pelo barão Georg Heinrich von Langsdorff, médico alemão naturalizado russo, que percorreu, entre os anos de 1824 a 1829, mais de dezesseis mil quilômetros pelo interior do Brasil, fazendo registros dos aspectos mais variados de sua natureza e sociedade, constituindo o mais completo inventário do Brasil.


foto da capa de uma publicação a Expedição de Langesdorf  A expedição fazia parte do esforço do Governo do Czar Alexandre I para reavivar as relações comerciais entre o Brasil e a Rússia que haviam sido muito prejudicadas pelo embargo imposto por D. João VI. Contando com o apoio do jovem Imperador D. Pedro I e de José Bonifácio que forneceram, em nome do Império, créditos vultosos e vantagens alfandegárias a expedição visava "descobertas científicas, investigações geográficas, estatísticas e o estudo de produtos desconhecidos no comércio"

As pesquisas se iniciaram com breves viagens a Minas Gerais, em 1824, e pelo interior do estado de São Paulo, em setembro de 1825.

A viagem se realizou em duas partes. A primeira, em 1824, em Minas Gerais. Nessa primeira etapa,  Johann Moritz Rugendas realizou inúmeras pinturas. Depois, dessa viagem, Rugendas se desentendeu com Langsdorff e desistiu de acompanhar a expedição russa, seguindo trajetória própria. O substituto de Rugendas foi Aimé-Taunay que se encontrava no Brasil.

Após consultar pessoas de sua confiança do interior da Província de São Paulo, o Barão de Langsdorff decidiu que a segunda etapa da viagem – para o interior do país - seria feita por rios.

quadro Índios Apiacás de Taunay
Índios Apiacás - Taunay
A viagem foi organizada em Porto Feliz (SP), com a participação do médico e político dessa cidade, Dr. Francisco Álvares Machado. Sua partida se deu em 22 de junho de 1826, do porto no Rio Tietê, Porto Feliz. Trajeto: Rios Tietê, Paraná, Pardo,Coxim,Taquari, Paraguai,São Lourenço,Cuiabá, Preto, Arinos, Juruena, Tapajós, Amazonas. Principais tripulantes, além do comandante: os artistas Aimé-Adrien Taunay e Hercules Florence, os zoólogos Ménétriès e Hasse, o astrônomo da Marinha Russa Néster Rubtsov, e o botânico Ludwig Riedel. Em janeiro de 1828, no Mato Grosso, Taunay se afogou no Rio Guaporé e Langsdorff teve um colapso perto de Diamantino.

O Retorno: De Belém (Pará) ao Rio de Janeiro, o retorno se deu pela costa brasileira. O barco aportou a capital do Império em 10 de março de 1829. O diário de bordo de Hércules foi publicado em 1875, pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, sendo que posteriormente, teve várias edições comerciais, com o título de “Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas – 1825- 1829”.

O diário de Langsdorff foi publicado no Brasil em 1997, pela Editora Fiocruz, depois de um intenso trabalho de pesquisadores e cientistas.

V - O trabalho de Rugendas


O livro de Rugendas está dividido em quatro partes: I- Paisagens (Paisagens, com vistas do Rio de Janeiro, Minas, Bahia e Pernambuco ); II- Tipos e Costumes (formada por quatro seções onde se introduz a população indígena, negra e branca); III - Usos e Costumes dos Índios (dividida entre costumes dos Índios e a vida dos Europeus); IV. - Usos e Costumes dos Negros;

a) Parte I - Paisagens


"A paisagem na "Viagem Pitoresca" foi concebida a partir do entendimento de uma base naturalística, mas seguramente já é uma paisagem cultural. O primeiro capítulo (Paisagens) trata de introduzir geograficamente o leitor europeu nessa realidade exótica e distante, mostrando um conhecimento amplo das regiões do país : “Se pesquisarmos as causas e as circunstâncias que provocaram essas divisões pitorescas, nós as encontraremos, evidentemente, nas diferenças de clima e solo” . 

As referidas divisões pitorescas são, de fato, paisagísticas, exatamente por decorrerem de uma configuração natural sobre a qual posteriormente procura inserir o trabalho humano . É uma paisagem pensada em termos abrangentes de terra, clima, vegetação, nação e fruição e interpretada a partir de uma visão geopolítica e de um conhecimento científico e utilitário da natureza. Essa concepção nos aproxima de Humboldt, para quem o caráter nacional e o temperamento dos espíritos são formados sob influência de circunstâncias climatéricas (Sandeville Jr. 1999:207). Assim, podemos perceber que para Rugendas, como para Humboldt, a paisagem é o resultado de qualidades regionais intrinsecamente ligadas à história da civilização e ao meio geográfico." (SANDEVILLE JUNIOR, Euler - Johann Moritz Rugendas: vivência, observação e invenção de uma natureza tropical brasileira)


a.1) Fóret Vierge prés Manqueritipa  


 Floresta Virgem perto Manqueritipa


Conforme Rugendas: “Para estabelecer uma comparação entre as florestas do Brasil e as mais belas e antigas do nosso continente, - não basta ressaltar apenas a maior extensão das primeiras, ou o tamanho das árvores, faz-se imprescindível assinalar ainda, como diferenças características, as variedades infinitas das formas dos troncos e das fôlhas e dos galhos, além da riqueza das flôres e da indizível abundância de plantas inferiores e trepadeiras que preenchem os intervalos existentes entre as árvores, contornam-nas e enlaçam-lhe os galhos, formando dessa maneira um verdadeiro caos vegetal. Nossas florestas não podem sequer dar-nos uma idéia mesmo longínqua. [...] Aqui a natureza produz e destrói com o vigor e a plenitude da mocidade: dir-se-ia que revela com desdém seus segredos e tesouros diante do homem, o qual se sente atônito e humilhado ante essa fôrça e essa liberdade de criação”

b) Parte II Tipos e Costumes 


"Os índios despertavam a curiosidade do europeu como povos e talvez raça considerados em estado primitivo e, ao mesmo tempo, em estado de pureza diante do artificialismo da civilização européia. Segundo nossa interpretação do álbum, os índios aparecem apenas a partir do contato com o europeu na floresta, seu “ambiente natural”. A partir daí são descritas e desenhadas várias cenas típicas da vida do índio, mas não seus utensílios e habitações, até a sua absorção gradual numa paisagem humanizada, prenunciando o ponto em que o índio desaparece." (SANDEVILLE JUNIOR, Euler - Johann Moritz Rugendas: vivência, observação e invenção de uma natureza tropical brasileira)


b.1) - Famille Indienne


foto de família indígena em uma caça ; vendo resultado da caça


b.2 - Négre e Negresse dans une Plantation

Ao contrário de Debret, Rugendas não se dispôs a fazer uma crônica real da situação brasileira. Como artista, Rugendas se empenhou em criar uma situação idealizada da vida, dos costumes e das pessoas que habitavam o Brasil na época.  Os corpos de negros e índios são representados em estilo clássico, os traços suavizados e europeizados, bem como é amenizada a situação dos escravos (o trabalho é mostrado como atividade quase lúdica em pranchas como Preparação da Raiz de Mandioca  . Já na época de sua publicação, o seu livro Voyage Pittoresque recebeu críticas por seu caráter pouco documental. Entretanto, ele alcançou êxito junto ao grande público, circulando no Brasil em edição francesa com grande sucesso, talvez por causa da maneira benevolente com que retrata a sociedade oitocentista.


casal de escravos bem vestidos conversando em uma fazenda


c) Parte III - Usos e Costumes dos Índios / Vida dos Europeus


c.1 - Indiens dans leur cabane


 família de indígenas preparando a refeição de caça em uma cabana



c.2 - Colonie Européene prés de Ilhéos


 família andando para a colonia perto da praia nas proximidade de Ilhéus

d) - Parte IV - Usos e Costumes dos Negros 


d.1-  Preparation de la Racine de Mendioca


Debret e Rugendas mencionam a mandioca com frequencia em seus textos e gravuras. A gravura abaixo de Rugendas representa o trabalho dos escravos na preparação da mandioca. Observe que apesar de sabermos que o trabalho é pesado e eles estarem representados com o dorso nu (os homens), não se vê em nenhum deles expressão de dor, cansaço ou sofrimento. Até a postura do capataz, parece ser a de quem está levando uma prosa com os trabalhadores sem nenhuma opressão.   


 preparação da mandioca por grupo de escravos


Referindo-se a uma das várias espécies da mandioca, o aipim, Gabriel Soares de Souza, em Tratado Descritivo do Brasil (1587), diz que: “Dá na nossa terra outra casta de mandioca, que o gentio chama aipins, cujas raízes são da feição da mesma mandioca, e para se recolherem estas raízes as conhecem os índios pela cor dos ramos, no que atinam poucos portugueses. E estas raízes dos aipins são alvíssimas; [...] 

Destes aipins se aproveitam nas povoações novas, porque como são de cinco meses, se começam a comer assadas, e como passam de seis meses fazem-se duros, e não se assam bem, mas servem então para beijus e para farinha fresca, que é mais doce que a da mandioca, as quais raízes duram pouco debaixo da terra, e como passam de oito meses, apodrecem muito. Os  índios se valem dos aipins para nas suas festas fazerem deles cozidos seus vinhos, para o que os plantam mais que para os comerem assados, como fazem os portugueses”. (In: Cascudo, 1988). (MANDIOCA E FARINHA: subsistência e tradição cultural - Maria Dina Nogueira Pinto)

d.3 -  Jogar Capoera ou danse de la guerre


Rugendas:  "Muito mais violento é outro jogo guerreiro dos negros, Jogar capoeira, que consiste em procurar se derrubar um o outro com golpes com a cabeça no peito, que se evitam pelo meio de hábeis saltos de lado e paradas. Enquanto se lançam um contra ou outro mais ou menos como bodes, as vezes as cabeças chocam-se terrivelmente.

Assim acontece não raro, que a brincadeira vira briga de verdade e que uma cabeça ou uma faca ensangüentadas fazem o fim do jogo."


 dança / luta de dois escravos negros e outros assitem


"Para realizar as fugas, o negro entendeu que precisava lutar. Não tinha acesso a armas nem a qualquer outro recurso de guerra. Tinha apenas seu corpo e a vontade férrea de se ver em liberdade. Havia trazido da África lembrança de jogos e "dança das zebras", disputa festiva pelo amor de uma mulher. O próprio trabalho pesado dotava-lhe de força os músculos. Era preciso juntar e canalizar essa agilidade e força para a luta. A observação do comportamento de alguns animais brasileiros, particularmente o lagarto, a cobra e a onça, que atacam e defendem-se com destreza, ajudou na formação de um conjunto de movimentos que reuniu, então, a agilidade, a técnica e a força.

Começaram a ser ensaiadas, inicialmente, as rasteiras, os pulos, as cabeçadas que iriam se desenvolver muito mais posteriormente. Era o início da capoeira, uma dança mortal que sobrevive até hoje como uma legítima arte marcial."

 (https://www.profjuliososa.com.br/2013/05/danse-de-la-guerre-de-johann-moritz.html)


V. - Referências


Wikipedia - Johann Moritz Rugendas / Langsdorff / Expedição de Langsdorff

Livro - Viagem Pitoresca através do Brasil - Johann Moritz Rugendas


SANDEVILLE JUNIOR, Euler. Johann Moritz Rugendas: vivência, observação e invenção de uma natureza tropical brasileira

MANDIOCA E FARINHA: subsistência e tradição cultural - Maria Dina Nogueira Pinto

Danse de la guerre: 
https://www.profjuliososa.com.br/2013/05/danse-de-la-guerre-de-johann-moritz.html)

DA CONSTRUÇÃO DO OLHAR EUROPEU SOBRE O NOVO MUNDO AO (RE) DESCOBRIMENTO DO REINO TROPICAL  - Dissertação de Mestrado de MARGARIDA MARIA DA SILVA CORRÊA para a Universidade de Goiás. 



quinta-feira, 20 de julho de 2017

A Basílica de São Marcos em Veneza

I. - Veneza no século XI


É aceito na história que as origens de Veneza estão ligadas à população que fugia  das invasões germânica e hunas na Península Itálica no século V. 

As defesas romanas foram derrubadas no início do século V pelos Visigodos e, cerca de 50 anos depois, pelos hunos liderados por Átila. A mais duradoura invasão foi a dos lombardos em 568. A leste, o Império Bizantino estava estabelecendo domínios na região do atual Vêneto e as principais entidades administrativas e religiosas do império na Península Itálica foram transferidas para este domínio. 

O domínio bizantino na Itália Central e Setentrional posteriormente foi eliminado em grande medida pela conquista do "Exarcado de Ravena" em 715 por Astolfo. Durante este período, a sede local do governo bizantino (a residência do "duque/doux", depois chamado de doge), foi situada em Malamoco.



vista aérea de Veneza a partir do campanário da Basílica de São Marcos
Vista  de Veneza a partir do Campanário da Basílica de São Marco, foto de Superchilum em Wikimedia Commons


O doge era o primeiro magistrado da República de Veneza. Os seus atributos simbólicos eram ainda reminiscências do Império Bizantino. O poder dos doges foi sempre limitado pelos venezianos, através, por exemplo, do promissio ducalis, uma carta de princípios e promessas que esses deviam jurar na data de entrada em funções. O texto foi fixado em 1172, quando foi eleito Enrico Dandolo, e foi alvo de alterações em 1192 e 1229. 

A influência política de Veneza foi marcante na história da Europa, sobretudo quando a partir da Alta Idade Média se expandiu graças ao controle do comércio com o Oriente e aos benefícios que daí vinham. Essa expansão deu-se sobretudo na zona do mar Adriático e do Mar Egeu. Veneza alcançou o apogeu na primeira metade do século XV, quando os venezianos começaram a expandir-se pela Itália oriental, como resposta ao ameaçador avanço de João Galeácio Visconti, duque de Milão. (Wikipedia - Veneza)


II. - A arquitetura Bizantina


O modelo arquitetônico da Igreja de São Marcos tem suas raízes localizadas na cidade  de Constantinopla, como exemplificado pela Igreja dos Doze Apóstolos, construída no tempo de Justiniano e destruída em 1462 para dar lugar a uma mesquita. 

Seguindo os princípios da arquitetura religiosa bizantina, San Marcos, também cumpre o princípio da separação entre a área do piso térreo e paredes, e a parte celestial, com tetos abobadados e cúpulas. A finalidade e a função são destacadas pelos diferentes materiais utilizados para cobrir a alvenaria. O topo do edifício tem uma incrível conotação metafísica e celestial por causa da luz produzida por vidro colorido, cor ou folha de ouro, simbolizando a luz do paraíso, enquanto na área inferior destaca o terreno com a força de paredes de mármores ricas em cores e sinais geométricos do solo.



maquete da Basílica de São Marcos vista de cima
maquete https://en.wikiarquitectura.com/building
/st-marks-basilica/
A arquitetura bizantina caracteriza-se fortemente por mosaicos vitrificados,  pelos ícones, que eram pinturas sacras feitas normalmente sobre madeira, e pinturas em afrescos. O estilo bizantino também tinha como destaque técnicas de construção inovadoras para a época, em especial, as voltadas para a construção de cúpulas, que surgiram por volta do século VI.  É a chamada “cúpula ou domo pendente“, que é um método construtivo que permite a colocação de um domo circular sobre um espaço quadrado ou sobre um domo elíptico ou espaço retangular .

O Mosaico foi um tipo de arte muito difundido no Império Bizantino, principalmente durante o reinado do imperador Justiniano de 526 a 565. As imagens em mosaico eram formadas a partir de pequenos pedaços de pedra coloridos, colados nas paredes.


III. - Basílica de São Marcos


A Basílica de São Marcos em Veneza, é uma das Igrejas mais bonitas da Itália e do mundo. Seguindo o estilo da  arquitetura bizantina,  junto com a Igreja de Santa Sofia e a Igreja "Chora Church", ambas em Istambul, elas se constituem nos mais belos exemplos desse estilo que foram construídas e ainda existem como templo religioso / museu.



foto da fachada da Basílica a partir da praça com turistas e pombos
Basilica de São Marcos, Veneza, foto de Nino Barbieri / wikimedia commons


Localizada na Praça de São Marcos, ao lado do Palácio dos Doges, a basílica é a sede da arquidiocese católica romana de Veneza desde 1807. A basílica de Santa Sofia e a Igreja de Chora Church não funcionam mais como Igreja e sim como museu e são abertas para visitação. 

Histórico

A atual basílica de São Marcos é a terceira edificação construída no local. A primeira igreja  foi um edifício temporário no Palácio dos Doges, construído em 828, quando mercadores venezianos adquiriram de Alexandria as supostas relíquias de São Marcos Evangelista. Em 832, um novo edifício foi erguido, no local da atual basílica; esta igreja foi incendiada durante uma rebelião em 976 e reconstruída em 978. Finalmente em 1063, se iniciaria a construção do que viria a ser a base do atual edifício.

A construção da Basílica


Em forma de cruz grega e coroada com cinco enorme domos, esta basílica foi inspirada na Igreja dos Apóstolos de Constantinopla e construída, e decorada, ao longo dos séculos. A partir de 1075, os navios que voltavam do exterior eram obrigados por lei a trazer um presente precioso para enfeitar a casa de São Marcos. OS mosaicos do interior que ocupam 4.240 m2, são, na maioria. dos séculos 12 e 13. Alguns foram substiruídos mais tarde por obras de Ticiano e Tintoretto. 

Por dentro, as paredes foram recobertas com mosaicos, numa mistura dos estilos bizantino e gótico; o piso, do século XII, é uma mistura de mosaico e mármore em padrões geométricos e desenhos de animais. Os mosaicos contêm ouro, bronze e uma grande variedade de pedras.

 foto de esculturas de cavalos acima da porta central da fachada
Os Cavalos de São Marcos foram acrescentados à basílica em torno de 1254. São obra da Antiguidade Clássica; Supõe-se que eles adornaram o Arco de Trajano. Foram enviados para Veneza em 1204 pelo Doge Enrico Dandolo, como parte do saque de Constantinopla na Quarta Cruzada. Foram levados por Napoleão em 1797, mas devolvidos à basílica em 1815, onde permaneceram até os anos 1990. Encontram-se atualmente numa sala de exposições, havendo sido substituídos por réplicas em fibra de vidro.



Até 1807, San Marco era a capela particular do doge, usada para cerimônias oficiais. Depois sucedeu San Pietro de Castello como catedral de Veneza. 

IV. - Arquitetura de São Marcos

Descrição

O projeto arquitetônico é muito articulado e  repete um único módulo pela cúpula central que é suportada através das abóbadas grandes em quatro pilares. Os dois braços da cruz são divididos em uma nave e dois corredores.


Planta


 foto da planta da Basílica
https://en.wikiarquitectura.com/building

A organização geométrica é regular e o posicionamento observa os princípios da simetria, na medida do possível.

A nave possui grandes decorações de sequência bastante lineares. Perto da entrada está uma grande haste retangular decorada que inclui um retângulo central menor com decoração semelhante. Mais tarde, em direção à capela, há um segundo retângulo grande contendo duas fileiras de diamantes e memórias policromas pontuadas por quatro quadrados alternados com três diamantes.


Acesso

A entrada principal do oeste tem uma porta de madeira do final do século X, coberta com uma folha de cobre e grelhas de bronze antigas. Esta entrada é flanqueada pela entrada de San Clemente à direita e San Pedro à esquerda e Portão Norte da Virgem ou San Juan.


Fachada

A fachada, tem cinco varandas abertas, que são decoradas com esplêndidos mármores e mosaicos e divididas em duas secções por um terraço onde estão os "Quatro Cavalos" em cobre dourado trazidos  de Constantinopla para o Duque Enrico Dandolo em 1204. Os cavalos expostos na fachada são cópias. Os originais são armazenados no Museu da Basílica.  



foto de um esboço da fachada
Esboço da Fachada, https://en.wikiarquitectura.com/building/st-marks-basilica/


A Magnífica fachada vista da Praça de São Marcos



foto da fachada da catedral bizantina com mosaicos dourados nos seus arcos
Fachada da Basílica de São Marcos, foto de Verkhvynets Taras / Shutterstock.com


Interior

A organização espacial é rica em evocações não encontradas em outras igrejas bizantinas. O interior tem uma seqüência unitária subdividida em arranjos espaciais individuais cuja continuidade é assegurada pelos mosaicos dourados do fundo.

A planta, na forma de uma cruz grega, é rica em pinturas e esculturas. O átrio está decorado com mosaicos que contam a história da Bíblia.



foto do interior da basílica com suas paredes, colunas e cúpulas douradas
Interios da Basílica, foto de Iornet / shutterstock.com


Particularmente interessantes são os mosaicos da origem veneto-bizantina, parcialmente reconstruídos por Ticiano, Tintoretto e Veronese.

Os eventos relatados no Pentateuco, o nome dado aos cinco primeiros livros da Bíblia e atribuídos a Moisés, são mostrados no átrio. O primeiro evento, representado na cúpula, é a criação do mundo, Hexaemeron, em seis dias seguido da história de Adão e Eva. É uma das obras-primas da arte que descreve a criação. Siga as histórias de Caim e Abel, Noé, o Dilúvio, a Torre de Babel, Abraão e as histórias de José, que ocupam três pequenas cúpulas do braço do norte, terminando com os principais eventos da vida de Moisés até o cruzamento da Mar Vermelho.


Piso / Mosaicos


O piso da igreja de San Marcos é um tapete de mármore espalhado por nada menos que 2100 metros quadrados.

Este tapete apresenta arranjos de mármore de diferentes tamanhos e cores para criar várias formas geométricas. Outros arranjos existentes são feitos de pequenos pedaços de mármore ou vidro que criam figuras florais ou animais. Existe uma clara predominância da primeira técnica.

Fotos de https://en.wikiarquitectura.com/building/st-marks-basilica/


foto de mosaico do piso nesse q=caso pequenos quadrados marrons   foto de mosaico do piso, nesse caso círculos cinzas ladeiam uma cruz
foto de mosaico com circulos coloridos divididos em setores cada um de uma cor  foto de mosaico grande no piso formando um grande círculo como se fosse uma pétala de uma flor com arcos partindo do centro


Iconostase / Altar

Além do transepto, delimitado pela iconostase, a área do braço oriental é ocupada pelo presbitério no centro e nos lados, pelas capelas de San Pedro norte e San Clemente ao sul.


foto da iconostase - altar com esculturas em mármore fazendo a separação
foto de Iornet / shutterstock.com


Retábulo do altar 


O retábulo de San Marcos, "Pala d'Oro" é universalmente considerado como a expressão mais bela e refinada do gênio bizantino, com a sua luz e seu brilho entendido como a elevação do homem para Deus. Este altar contém relíquias do evangelista. 


foto do retábulo dourado conhecido como Pala d'oro
Pala d'Oro, foto de Keet 37 em Wikimedia Commons


O retábulo é composto por duas partes, o Pala d'Oro e o recipiente de madeira que está por trás. Desde as suas origens só foi aberto durante as celebrações litúrgicas na Basílica, uma tradição que continua até hoje. O resto do tempo é coberto por outro retábulo conhecido como "justo", uma pintura em madeira. A mais antiga dessas pinturas foi feita por Paolo Veneziano entre 1343-1345 e representa a história de San Marcos e outros santos. Esta pintura foi mantida no Museu da Igreja e, em vez disso, o trabalho de um mestre do gótico tardio, que data da primeira metade do século quinquenal, pode ser admirado na parte de trás do altar. 

Cúpulas 


Cada uma das cúpulas do teto descansa em quatro grandes abóbadas cujo peso é suportado por quatro pilares. A maior cúpula da Ascensão, repousa no cruzeiro e as outras quatro nos braços da cruz. As cúpulas consistiam em meia-esferas com grandes apoios de alvenaria.



foto da cúpula principal e pintada de dourado
foto lornet em shutterstock.com


Mosaicos da Fachada

A decoração em mosaico de San Marcos tem uma área de mais de 8 mil metros quadrados, ilustrando principalmente temas bíblicos no Antigo Testamento e no átrio do Novo Testamento dentro da Igreja.


Na fachada externa de São Marcos apenas um dos mosaicos está na sua forma original. É o relacionado com  a procissão que leva o corpo de São Marcos até a basílica. Todos os outros foram refeitos, conservando o plano original, no período entre os séculos XVII e XIX.  



 Mosaico da fachada mostrando a chegada do corpo de São Marcos
Mosaicos da fachada externa mostrando a Procissão da chegada do corpo São Marcos,
foto de Alessandro Cristiano em Shutterstock.com


Estátua de São Marcos e Leão de Veneza



 foto da estátua de São Marcos no topo da Basílica
Escultura São Marcos, foto de  @Csehak Szabolcs
O Leão alado é o símbolo de São Marcos. Podemos encontrar essa marca por toda Veneza. Na Basílica, uma estátua de São Marcos com um leão abaixo está colocada no topo da Igreja.

Estrutura

A planta na cruz grega  cria uma estrutura na parte longitudinal do nave conhecida por certos motivos arquitetônicos. A perna vertical da cruz é maior que os transeptos e o altar está na área da abside. Os dois braços da cruz são subdivididos em três naves.

Tem três absides que se abrem em absidiolos em forma de lobo, estabelecendo-se em pilares perfurados por arcos. Em alguns desses pilares, a tribuna se senta. Acima do solo, foram construídas cinco cúpulas, de acordo com o modelo oriental, como símbolo da presença de Deus.

Materiais  / Mármore e pedras


Os elementos decorativos de mármore utilizados na basílica são de grande interesse tanto do ponto de vista dos revestimentos quanto do mobiliário litúrgico. A maioria desses mármores foi obtida principalmente dos edifícios nas regiões de Constantinopla.

Na decoração de San Marcos, o critério da antiguidade tardia continuou, levando em conta as diferentes funções simbólicas do templo para usar cores ou composições.

 foto das paredes externas de mármore claro da basílica
foto de: en.wikiarquitectura.com/building/st-marks-basilica/

Detalhes no mármore



 foto de detalhes florais esculpidos em relevo do mármore
foto de: en.wikiarquitectura.com/building/
st-marks-basilica/





 foto de portões de entradas laterais
foto em en.wikiarquitectura.com/building/
st-marks-basilica/


A pedra mais preciosa era o pórfiro vermelho, ligado ao simbolismo imperial do período da antiguidade tardia associado ao púrpura. No período em que os venezianos construíram San Marcos, púrpura e, portanto, por pórfiro, estavam ligados ao poderoso império e ao próprio simbolismo divino do Império Bizantino.


Pilastri Acritani: "São duas colunas na lateral da Basílica decoradas com folhas e parreiras em estilo persa, mas o único consenso sobre elas é de que foram roubadas. Não se sabe exatamente de onde, (Síria ou Constantinopla) nem para que serviam e nem por qual motivo foram colocadas ali. Além de que encravadas nelas estão duas escritas em hieróglifos ainda hoje não decifradas." 
https://www.aquelelugar.com.br/basilica-sao-marcos-veneza/

Tetrarcas



esculturas em pedra escura do grupo de tetrarcas
foto de @Nino Barbieri
Em San Marcos, o uso do pórfiro está associado a soluções destinadas a destacar a grandeza política de Veneza e sua glória, sem quaisquer implicações religiosas. A pedra desta cor pode ser vista no grupo de Tetrarcas no canto do Tesouro, destacando a entrada do Palácio Ducal em colunas que decoram a porta central da fachada oeste da Basílica, quase como um arco de triunfo, ou no Cantos da fachada, como delimitando um espaço real.

Os únicos elementos dentro do pórfiro encontrados no "púlpito" originalmente arquibancada Doge, outro símbolo de poder. Às vezes, quando não há pórfiro, Iassense de mármore, vermelho escuro com veias brancas que são usadas especialmente em revestimentos de parede, mas com uma intenção decorativa única foi usada.

Outro belo mármore com tons violetas e raios avermelhados era o Docimeum ​​de mármore ou pavão, sempre usado em uma posição privilegiada como as colunas da abside.

V. - Museu Marciano / Tesouro


Para chegar ao Museu, siga a indicação "Loggia dei Cavalli", na escadaria que sai do átrio e conduz ao piso superior. Os cavalos originais estão numa sala no final do museu. Da galeria tem-se uma excelente vista de Veneza.

foto das esculturas originais dos quatro cavalos guardados no Museu
Quatro Cavalos, foto de canyalcin / Shutterstock.com
jóia dourada fazendo uma réplica da basílica
réplica da basílica

Tesouro


Embora saqueado após a queda da Republica  para recolher dinheiro no início do século XIX, o Tesouro ainda tem uma valiosa coleção de objetos de prata bizantinas, ouro e vidro. Entre as exposições estão cálices, copos, relíquias, dois ícones muito complexos do Arcanjo Miguel e relicários de prata dourada do século 11 , na forma de uma basílica com cinco cúpulas. 


VI. - Campanário 


A torre sineira de San Marcos é uma imponente torre quadrada de 99 metros de altura, encabeçada por uma torres foi uma vez um farol de navegação. É o protótipo de todas as torres na área da lagoa. Foi construído pela primeira vez no século XII no local provavelmente ocupado por uma torre de vigia e reconstruído a sua forma atual no início do século XVI com a adição de uma torre de sino com agulha de cobre e coberto por uma espécie de plataforma giratória uma estátua do arcanjo Gabriel, que trabalhou como uma vara do tempo.


foto da praça de São Marcos com a torre sineira em primeiro plano e a basílica ao fundo


Dos cinco sinos originais, apenas o maior é preservado. O outro, que foi substituído, foi destruído quando a torre entrou em colapso em 1902. Contra a base do campanário é a varanda construída por Jacopo Sansovino entre 1537 e 1549 e decorada com mármores e bronze.

VII. - Referências


Wikipedia - Basilica de São Marcos / Veneza / Palio d'oro

Wiki architeture - Places = Italia, St. Marcus Basilica

5 curiosidades sobre a Basílica de São Marcos - italiaperamore.com