Páginas

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Barcelona III - Era Moderna

I. - O Governo de Fernando de Aragão -  Um governo local mais aristocrático


Desde o início do seu reinado (Cortes de Barcelona 1480), Fernando teve que desenvolver uma política de reforma que tinha herdado de João II por resolver. As instituições estavam desgovernadas, ineficientes e em dívida com os interesses privados.  

quadro com retrato de Fernando de Aragão jovem adulto  Fernando, o católico, reorganizou -os , começando com a Generalitat e depois aplicando o mesmo método no governo municipal de Barcelona: suspensão da eleição dos juízes para estabelecer a escolha através de sorteio dentre uma lista pré-indicada pelo Rei. Ele deixou a administração nas mãos dos poderosos sem possibilidade de ascendencia das classes mais baixas. 

Enquanto se organizavam as instituições Barcelona saía da idade média como a maior cidade da Catalunha, entretanto o crescimento que ela experimentou durante os séculos modernos foi modesto e não comparável com o de cidades como Madrid e Paris que se multiplicaram por cinco. 


Organizações de trabalhadores


ilustração de um artesão fazendo um trabalho manual
Apesar das dificuldades de acesso aos postos da administração pública, Barcelona viveu nessa época o auge das organizações de trabalhadores em Grêmios (Guildas) e Irmandades. De acordo com o censo de 1516, os artesãos constituíam um terço de todas as famílias e quase metade da população ativa da cidade - e estes se organizavam coletivamente.

II. - A sucessão de Fernando - Primeiro Reino da Espanha unificada


quadro com ilustração de Fernando mais velho sentado com uma roupa escura   Com a morte de Fernando em 1516, Isabela já havia falecido em 1504, a  herdeira da coroa de Aragão seria Joana, a única filha viva dos Reis Católicos. Entretanto como ela havia sido declarada mentalmente incapaz, e seu marido Filipe também havia falecido, quem assumiu o trono de Aragão foi o filho dela, Carlos que tornou-se o primeiro monarca dos reinos de Castela, Aragão, Nápoles, Sicília e colônias americanas. Com isso Carlos I, pode ser considerado o primeiro Rei da Espanha. 

Com a morte do seu avô Maximiliano I de Aústria, em 1519, ele herdou a coroa das Habsburgos e foi eleito Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, como Carlos V.

Carlos teve uma atuação grande em três frentes: Na luta contra a Reforma Protestante (Contrareforma), na guerra contra os turcos que sitiaram Viena e na conquista do novo Mundo, incluindo o México e Peru. 

Carlos abdicou da coroa da Espanha em prol do seu filho Filipe II em 1556 e morreu dois anos depois em seu retiro em um mosteiro.

A coroa da Espanha permaneceria com a dinastia dos Habsburgos até novembro de 1700, quando Carlos II morreria sem deixar herdeiros. 

III. - A Contrareforma - A Igreja trouxe o barroco.


A Contrarreforma trouxe à Barcelona um grupo de ordens religiosas que construíram muitos conventos. Enquanto o Governo municipal se ocupava com a atenção às pessoas necessitadas, a inquisição começou a funcionar em uma dura luta com os poderes publicos. 

III.1 - Muitos Conventos no Raval


convento de ST Pau nos campos do raval
Convento de St Pau des Camps -
Raval
foto de TenOfAllTrades em Wikipedia
A Igreja se converteu em um dos principais transformadores da cidade moderna com uma intensa expansão conventual que ocorreu entre os século XVI e XVII, muito vinculadas a um processo de moralização pública e de reforma dos modos de religiosidade. Houve também um aumento enorme das ordens religiosas regulares, especialmente entre a segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII sob o impulso da Contrareforma.

III.2 - A atenção às pessoas necessitadas


A progressiva acentuação da atuação municipal na atenção aos necessitados teve o seu auge no ano de 1583 com a criação da Casa da Misericórdia que evidenciava a mudança de uma caridade cristã, voluntária, individual e privada para uma beneficenca hospitalar, centralizada e laica. 

Casa da Misericórdia

No final do século XVI, o padre e professor universitário Diego Pérez de Valdivia recebeu a ajuda do Conselho dos Cem para fundar esta Casa da Misericórdia, um lar para os necessitados que tomou o nome de "Hospital de Nostra Senyora da Misericórdia" em 1548.

É um grande complexo delimitado pela rua de Montalegre, rua de les Ramalleres e rua d'Elisabets . Construído no século XVII, é estruturado em torno de dois pátios retangulares com a entrada principal na rua d'Elisabets . Inclui o Registo Histórico da Casa da Misericórdia, que conserva toda a documentação gerada pela instituição, e duas capelas: uma mais moderna paralela à rua de Montalegre e outra mais antiga (final do século XVII), que desde 2003 , abrigou a livraria La Central no Raval.

foto da entrada da Casa da Misericórdia    foto da construção da Casa da Misericórdia


Casa da Convalescência

O Conselho dos Cem participou ativamente das antigas e novas instituições assistenciais, ampliando o Hospital de la Santa Creu com a Casa de Convalescência e fundando em 1680 a Casa d'Infants Orfes (aliviando em parte o Maternidade, fundada em 1853). Os pobres não eram mais considerados com o idealismo da Idade Média, mas considerados uma força de trabalho em potencial.

 foto do pátio da Casa da Convalescência  foto da parte externa da casa da Convalescência


III.3 - A Inquisição e as bruxas


Inquisição


Criado pelos Reis Católicos como um instrumento político para unificar os diferentes reinos, o Conselho dos Cem e outras autoridades catalãs se opuseram, sem sucesso, à introdução da Inquisição no Principado. E, embora as autoridades municipais evitassem sistematicamente o acesso aos auto-da-fés , Barcelona é uma das poucas cidades da Península Ibérica que ainda conserva o brasão da Inquisição. Encontra-se na fachada principal do Palau Reial, na Carrerrua dels Comtes , que foi sede da Inquisição.

Caça às bruxas

Outro fenómeno que assolou as terras catalãs, a caça às bruxas iniciada no primeiro quarto do século XVII, não teve nada a ver com a inquisição. 

Em  Barcelona não teve nenhum episódio de pessoa identificada como tal. 

IV. - Meio Século de crise - A guerra dos Segadores (1640-1652)


No caso dos catalães, o matrimônio com a coroa castelhana, impossibilitou-os de comerciar e foram obrigados a virar-se para Lisboa ou Sevilla. Além disso, a língua catalã caiu em decadência, pois os reis tentaram impor o castelhano, fazendo que a própria nobreza catalã se virasse para Madrid. O Século de Ouro espanhol contrasta com a Decadência catalã. A pequena burguesia é afastada. Impossibilitada de fazer carreira política, a nobreza catalã é marginalizada. A isto, acrescenta-se o contato dificultoso com os turcos. A crise económica arrastada do fim da Idade Média não é superada.



Entre 1640 e 1652 os catalães envolvem-se num conflito, a Guerra dos Segadores, contra o domínio hispânico do rei Felipe IV. Na mesma altura, os Países Baixos e Portugal encontram-se também em guerra contra o rei Felipe IV. No caso português a guerra começa também em 1640 e toma, como no caso catalão, caráter secessionista.


 quadro A Guerra dos Segadores


Em paralelo com a guerra de trinta anos que dominava toda a Europa, na península ibérica, o conde duque de Olivares pretendia iniciar um processo de centralização total do reino através dos impostos e da constituição de uma armada unificada, para satisfazer a política agressiva e expansionista do monarca Habsburgo; projeto que tem o nome de “Unión de Armas”. A pobreza nos campos e os anos de decadência vividos na Catalunha fazem que em 1626 as Cortes catalãs rejeitem a proposta de Filipe IV com o projeto de “Unión de Armas”, além de lhe apresentar uma grande lista de queixas e reivindicações.

Entretanto, a guerra na Europa não espera e Richelieu ataca os Habsburgo em território catalão. As Constituições catalãs diziam explicitamente que a Catalunha só defende território nacional, ou seja, catalão. Para provocar uma revolta, Richelieu traz premeditadamente a guerra para a Catalunha. Em 1640 a obrigação de alojar tropas castelhanas, o abuso dos militares e as consequências derivadas da guerra provocam grande nojo entre a população catalã. Em 7 de junho do mesmo ano, durante a festividade do Corpo de Deus, um ceifeiro (em catalão “segador”) é morto, o que a sua vez leva à morte do Conde de Santa Coloma, a maior autoridade da Catalunha nessa altura. 

Começa a Revolta dos Segadores onde a Catalunha pleiteia a sua independencia. Castela exige que Portugal contribua militarmente e ajude-a a sufocar a rebelião. Portugal nega-se e inicia por sua conta uma guerra paralela para restabelecer a sua própria soberania. É a chamada Guerra de Restauração

O final do confronto é desfavorável para a Catalunha que perde na guerra e assiste como a França se apodera do condado do Rosillon e parte da Cerdanha através do Tratado dos Pirineus. 

 IV. - A Guerra da Sucessão (1702~1715) - as grandes perdas Catalãs.


A morte sem descendencia do rei Carlos II, com a idade de trinta e nove anos, em novembro de 1700, deu origem a um pleito dinástico internacional que terminou com um conflito que provocou a morte de mais 1.200.000   pessoas e foi denominada de "Guerra da Sucessão" (1702 a 1715). 

Em seu testamento, o monarca nomeou herdeiro universal de seus reino o duque Felipe d'Anjou, neto de Luis XIV de França, o Rei Sol. Isso deu início à dinastia Bourbon na Espanha. 


 quadro A Guerra da Sucessão   O novo monarca que reinou com o nome de Felipe V, jurou em outubro de 1701 as constituições da Catalunha e convocou uma corte geral em que os Catalães conseguiram, a troco de uma grande doação, concessões políticas e econômicas estratégicas, como a permissão para fazer o comércio direto com a América. 





Entretanto, uma vez que os Bourbon teriam, além da França, o poder na Espanha, as demais potências europeias recearam da união de dois Estados tão poderosos, tanto quanto a França temia uma reunião da Espanha e da Áustria de novo sob as mãos de um Habsburgo. Daí gerou-se o conflito, motivado pela sucessão de Carlos II de Espanha. O imperador Leopoldo I da Áustria, parente próximo do rei falecido, julgando-se com direitos ao trono de Espanha, iniciou as hostilidades, e assim teve início a guerra.

Os territórios de Castela se alinharam com o novo monarca francês; Entretanto, em pouco tempo, Aragão passou a demonstrar apoio ao outro pretedente, o arquiduque Carlos da Austria. Isso se converteu em uma causa contra o rei Felipe V.

Em novembro de 1705, depois de um assedio aliado, o arquiduque Carlos da Àustria entrou triunfalmente em Barcelona, onde foi proclamado Carlos III. A cidade voltou a ser corte real. O arquiduque convocou novamente a corte geral e confirmou as concessões dadas anteriormente além de acrescentar outras novas. 

 gravura de homens nobres conversando - parecem discutir a paz de Utrecht  Durante a guerra, Valência e Aragão caem e não resistem às tropas castelhanas, mas a Catalunha consegue resistir até que a morte do imperador da Áustria no 17 de abril de 1711 vira o destino da Catalunha para o fundo do poço. Os aliados da Catalunha, a Grande Aliança, começam a redesenhar a situação porque com a morte de José I, a casa de Áustria de Viena representaria uma força hegemónica. Em 1713 os beligerantes fazem as pazes em Utrecht. O neto de Luís XIV, Filipe d'Anjou, é reconhecido monarca da Espanha, com o compromisso de renunciar à coroa da França e ceder  territórios, como Gibraltar e Maiorca, aos Ingleses

A guerra toma fim com o tratado de Utrecht a nível internacional, mas na península, ela ainda continua. Os catalães ainda resistem e não vão ceder com facilidade. Até o 11 de setembro de 1714, a Catalunha resiste sozinha à guerra. Traída, pois os ingleses abandonam o pacto de Génova, e deixada à violência dos Bourbons, a Catalunha tenta defender a sua soberania até o último momento. A 11 de setembro de 1714 Barcelona não aguenta e cai finalmente em mãos dos Bourbons. É o final definitivo da Guerra de Sucessão Espanhola, e o início da repressão que terá o principal objetivo de erradicar o Estado catalão

As consequências da revolta Catalã


Para eliminar o espírito de separação dos catalões, o novo rei, Felipe V de Espanha, impõe as Leis e o marco jurídico castelhanos à Catalunha. A população é reprimida com a armada. Parte do bairro da Ribera é destruída, levando consigo inumeráveis casas, para construir por cima a Ciutadella e Castelo de Montjuïc, uma fortaleza que tem de assegurar a submissão da cidade e do povo rebelde. 


Em 1716 entra em vigor o Decreto do Novo Plano que destroi as Cortes catalãs, persegue a língua catalã, as leis catalãs, as instituições catalãs e toda amostra de catalanidade



O 11 de Setembro de 1714 fica marcado na história da Catalunha como o seu dia nacional e é por esse motivo que em todos os 11 de Setembro, catalães saem numerosos nas ruas a reclamar independência


V - O embelezamento da cidade


Durante a segunda metade do século XVIII, a Praça de Palau era um dos principais centros nevrálgicos de Barcelona da época. Além do Palácio Real e da Aduana, destacava-se a nova "Lonja", sede da Junta do Comercio.


gravura da Praça do Palau com o Palácio real e Aduana


La Rambla


Até o século XVIII, a área de La Rambla era essencialmente uma muralha.

Desde 1700, o Conselho dos Cem começou um primeiro desenvolvimento com a criação de um bosque de álamos. Após a Guerra da Sucessão, em ambas as extremidades de La Rambla, quartéis militares foram estabelecidos, aos quais foram adicionados a antiga fundição de canhão e a construção de mais conventos.

A transformação da Rambla em uma calçada de  passeio começou em 1766, graças ao projeto de desenvolvimento do engenheiro militar Pedro Martín Cermeño, que, com modificações, começou a se materializar em 1772 com a construção do Palácio da Virreina.

Entre 1798 e 1802 foi dada a urbanização definitiva da moderna calçada de passeio.

 foto das Ramblas nos dias de hoje


V. - O fim do Antigo regime


- Crescimento econômico (Carlos III reinou de 1759 a 1788)

O crescimento económico foi acompanhado por um aumento significativo da população. Um dos principais setores econômicos em termos de recuperação da economia foi a indústria indiana, que gradualmente ocupou grande parte dos prados da antiga cidade de Sant Martí de Provençals.

Em 1759 o novo rei da coroa espanhola, Charles III de Bourbon, veio para a península através de Barcelona. Um ano depois, ele introduziu o chamado Memorial de Queixas.



 quadro com o porto de barcelona


Desde 1765, graças aos esforços da "Câmara de Comércio", o porto de Barcelona foi autorizado a negociar diretamente com os Estados Unidos, embora com restrições,  mas sem ter que passar por Cadiz, que até então desfrutava o monopólio.

A liberalização total do comércio exterior, no entanto, não foi uma realidade até 1778. Também foi conseguido a liberação para negociar com o Extremo Oriente a partir de 1785. 

Revoltas e Motins


Durante a segunda metade do século XVIII, Barcelona sofreu grandes perturbações, como o motim de 1773 além de várias crises de subsistência, especialmente durante períodos de más colheitas nos anos de 1763 a 1764 e especialmente durante os anos 1788 / 1789, quando perturbações graves, conhecidas sob o nome de motins do pão, foram causadas ​​pelo aumento do preço dos produtos básicos. 



Charles IV (1789 a 1808)


Pelo final do século XVIII, Barcelona e a Catalunha em geral, que tinham experimentado significativo crescimento da população , tornaram-se o palco de várias guerras internacionais entre a Espanha de Charles IV com a Inglaterra e a França, um prelúdio para a ocupação napoleônica do início do século XIX


Fim do antigo Regime 

Em 13 fevereiro de 1804 as tropas napoleônicas começaram a ocupação pacifica de Barcelona sob o comando do general Duhesme.

Aqueles que se chamaram aliados da monarquia espanhola provaram ser, em suma, um verdadeiro bando  de invasores. Quando se tornou público em 23 de maio de 1808 a renúncia dos reis,  os distúrbios da Coroa começaram. Em 18 de Junho 1808, José Bonaparte foi proclamado Rei de Espanha  e forçou o desarme da população de Barcelona.


 gravura de abril de 1809 celebrando o heroísmo da cidade de Barcelona


Apesar da resistência organizada contra os franceses, a cidade viveu sob a ocupação napoleônica durante seis anos e três meses.  

Finalmente, as tropas francesas deixaram Barcelona em 28 de Maio de 1814, o mesmo dia em que o Conselho da Cidade restaurou a dinastia dos Bourbons.

Vejam a seguir Barcelona na idade Contemporânea.


VI. - Referências

História da Cidade de Barcelona - www.bcn.cat / historia


VII - Outras Publicações da série