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sexta-feira, 28 de abril de 2017

Pós-Impressionismo III - Vincent van Gogh

I - Vincent van Gogh


Vincent Van Gogh nasceu no povoado de Zundert, Holanda, em março de 1853.

"Com várias fases ao longo de sua carreira, Van Gogh ao final tornou-se um dos grandes inovadores no estilo da pintura dominante da época que era o impressionismo francês.

Na sua primeira fase os quadros de Van Gogh tem a forte influência holandesa com uma forte combinação do claro-escuro e de temas predominantemente sociais.


autorretrato de Van Gogh fundo esverdeado, de 1887
Autorretrato, 1887


Em 1886 Van Gogh vai para Paris onde se liga superficialmente ao movimento impressionista. Ele torna-se mais ligado a Gauguin pela simplificação dos seres, modos de utilização da luz e por usar cores bem definidas.

Em 1888 Van Gogh vai para Arles, cidade ao sul da França onde passa a pintar ao ar livre. É lá que Van Gogh cria o seu estilo pessoal dominado pelas cores intensas.

Van Gogh entretanto passa por várias crises nervosas e depois de internações e tratamentos médicos muda-se em maio de 1890 para a cidade de Auvers, uma cidade traquila ao norte da França. Nessa época em apenas três meses ele pinta cerca de 80 telas.

Em julho do mesmo ano Van Gogh suicidou-se deixando uma obra composta de 879 pinturas, 1756 desenhos e dez gravuras. Enquanto viveu não foi reconhecido pelo público."

Texto: Resumo retirado do livro "História da Arte" de Graça Proença


II - Trabalhos iniciais


Van Gogh nasceu em uma família de classe média alta e começou a desenhar ainda criança. Filho de um pastor protestante e neto de um comerciante de arte começou sua vida aproximando-se da vocação de seus ascendentes.


Vendedor de Artes


Ele trabalhou como vendedor de arte na Galeria Goupil em Haia, em 1869, quando jovem, e viajava frequentemente. Em 1873 ele foi transferido para Londres ficando  lá até 1875 quando foi transferido para Paris. Em junho de 1875,  em Paris, VAn Gogh visita no hotel Drouot  uma exposição com 95 desenhos e pastéis de Millet vindos da coleção de Emile Gavet. Van Gogh ficou entusiamado com o que viu.  Desiludido do trabalho, que ele achava que tratava a arte como mercadoria, em 1876 ele foi desligado do emprego.


Missionário e Pastor Evangélico


Van Gogh voltou-se para a religião passando algum tempo como assistente de um pastor, preparando-se para um curso de Teologia que não teve sucesso,  e depois  como missionário protestante na BélgicaEle 1880, depois desses anos onde  ele enfrentou problemas de saúde, solidão e frustrações,   ele decidiu por se dedicar a pintura. 


III - Estudos iniciais na pintura


Em 1880, passou alguns meses na Academia de Bruxelas mas logo abandonou mudando-se para a casa de seus pais. Ele pede a seu irmão Theo para lhe enviar gravuras de trabalhos de campo realizados por Millet. Através dessas imagens, Vincent aprendeu a desenhar as figuras humanas em lápis. No final de 1881 Van Gogh vai para Haia e pede para ser aluno de seu primo de segundo grau Anton Mauve que era o padrão de artista de sucesso que Van Goh queria ser. Com poucos meses os dois se desentenderam sobre as visões da arte. 


Van Gogh passa quase dois anos pintando e tentando vender seu trabalho em Haia, onde ele passou a viver junto com uma moça muito pobre Sien que tinha um filho e e estava grávida de outro em uma união desaprovada por todos.


Nuenem, Amsterdã


Em setembro de 1883 ele volta para casa dos pais em Nuenem e continuou os seus estudos produzindo várias telas. Em Dezembro de 1884 ele vai para Amsterdã e começa a produzir a série com 50 faces de camponeses. Ele concluiu a série com  o seu primeiro grande trabalho "Os comedores de Batata" em maio de 1885.


 Os comedores de Batata, 1885


quadro os comedores de batata - quadro escuro de pessoas na mesa para o jantar com algumas batatas na mesa
Comedores de Batata, 1885


O seu estilo seguia a linha dos pintores holandeses, com a paleta de cores reduzida e trabalhando mais com o contraste claro-escuro; 

Ao peguntar ao seu irmão Theo por que ele não conseguia vender suas obras em Paris onde trabalhava, recebeu o comentário que em Paris vigorava então as pinturas com mais cor, mais claras, retratando a natureza ao ar-livre e refletindo bem a luz. Era a época dos Impressionsitas. 

Antuérpia



Em 1886, Van Gogh mudou-se para Antuérpia onde viveu na pobreza, comendo pouco, preferindo gastar o dinheiro enviado por Theo em materiais e modelos. Pão, café e tabaco tornaram-se sua dieta padrão. Ele escreveu ao irmão em fevereiro de 1886 que se lembrava de ter comido apenas seis refeições quentes desde maio do ano anterior. Seus dentes ficaram soltos e doloridos Ele dedicou-se na Antuérpia ao estudo da teoria das cores e passava tempo dentro de museus, particularmente estudando as obras de Peter Paul Rubens, ampliando sua paleta para incluir carmim, azul-cobalto e verde-paris. Van Gogh comprou xilogravuras ukiyo-e japonesas nas docas, posteriormente incorporando elementos desse estilo no fundo de algumas de suas pinturas. Ele passou a beber muito outra vez e foi hospitalizado entre fevereiro e março de 1886, possivelmente também tendo sido tratado por sífilis.


Apesar de sua antipatia com estudos acadêmicos, Van Gogh fez o difícil vestibular de admissão na Academia Real de Belas Artes da Antuérpia após se recuperar, matriculando-se em janeiro de 1886 nos cursos de pintura e desenho. Ele acabou ficando doente e exausto por tanto trabalho, dieta ruim e fumo excessivo. Van Gogh rapidamente brigou com o diretor da academia e professor Charles Verlat por causa de seu estilo não-convencional de pintura.


IV - Paris


Van Gogh mudou-se em março de 1886 para Paris onde inicialmente dividiu um apartamento com seu irmão Theo em Montmartre, indo estudar no estúdio de Fernand Cormon. Van Gogh pintou em Paris vários retratos de amigos e conhecidos, pinturas de natureza-morta, vistas do Moinho da Galette e cenas de Montmartre, Asnières e ao longo do Rio Sena. Ele usou as xilogravuras ukiyo-e japonesas que comprara na Antuérpia para decorar as paredes de seu estúdio. Van Gogh tentou fazer japonismos, desenhando uma figura a partir de uma reprodução vista na capa da revista Paris Illustre que depois ampliou graficamente em uma pintura. 

Ele adotou uma paleta mais brilhante e pinceladas mais fortes, particularmente em pinturas como Paisagem Marinha em Saintes-Maries, depois de ver um retrato de Adolphe Monticelli na Galeria Delareybarette


Retrato de Pére Tangui, 1888


Julien Tanguy era um comerciante de tintas, conhecido como Père Tanguy. Tanguy era um socialista respeitado pelos artistas, havia participado da Comuna de Paris e, além de vender material de pintura a preços muito baixos e a crédito, possuía uma pequena galeria de arte ao lado de sua loja. 

Tanguy foi uma das figuras-chave do pós-impressionismo, pois sua galeria, ainda que desconhecida do grande público, reuniu obras de artistas como Van Gogh, Seurat, Gauguin e Cézanne, considerados os precursores da arte do século XX


  quadro de Pere Tangui
Pére Tangui, Van Gogh, 1888 


Van Gogh deixou Paris em fevereiro de 1888 por estar se sentindo cansado, tendo pintado mais de duzentos quadros nos dois anos que passou lá. Ele fez junto com Theo sua primeira e única visita ao estúdio de Seurat pouco antes de partir.

V - Arles


Van Gogh procurou em fevereiro de 1888 um refúgio em Arles por estar doente devido bebedeiras e tosse de cigarro. Ele aparentemente mudou-se com a intenção de fundar uma colônia de artistas.

O tempo passado em Arles foi um dos períodos mais prolíficos da carreira de Van Gogh: ele completou duzentas pinturas e mais de cem desenhos e aquarelas. Ele ficou encantado pela paisagem local e a luz; seus trabalhos nesse período são ricos em amarelo, azul ultramarino e malva. Seus quadros incluem colheitas, campos de trigo e marcos rurais gerais da área.

Quarto em Arles


O Quarto em Arles foi pintado a primeira vez em 1888 e é uma das mais conhecidas obras do artista. O famoso quadro retrata o quarto que Vincent van Gogh alugou numa pensão, ma cidade de Arles, antes de se mudar para seu estúdio na Casa Amarela. Van Gogh passou cerca de um ano em Arles. 

  quadro do quarto em Arles com a famosa cama de madeira alaranjada com cobertor vermelho
Quarto em Arles, 1888



Van Gogh pintou ainda outras duas versões desse quadro, uma delas está no Museu d'Orsay.

Van Gogh e os Girassóis


Van Gogh pintou muitas paisagens floridas com rosas, lilases, lírios e girassóis. Algumas refletem seu interesse na linguagem cromática.  Ele criou duas séries de girassóis morrendo. A primeira foi pintada em 1887 em Paris e exibe as flores repousadas no solo. A segunda foi concluída no ano seguinte em Arles, retratando buquês em vaso, dispostos à luz da alvorada. Ambas foram concebidas com o uso de impasto, o que evoca a "textura de cabeças de girassol recheadas de sementes" de acordo com a Galeria Nacional de Londres.

Os dois conjuntos foram criados para que pudesse exibir sua habilidade técnica e método de trabalho a Gauguin, que estava para visitá-lo.



quadro de vaso com girassois amrelos em um vaso amarelado
Girassol, 1888


Os quadros de 1888 foram pintados em um período de raro otimismo, sobre o qual Van Gogh escreveu para Theo em agosto de 1888 dizendo: "Estou pintando com o entusiasmo de um marselhês a comer bouillabaisse, o que não lhe surpreenderá por ser este o caso de pintar grandes girassóis ..."

Os girassóis foram pintados para servirem de decoração em antecipação para visita de Gauguin, tendo sido dispostas individualmente pelo quarto de hóspedes da Casa Amarela em Arles.


VI - Período com Gauguin


Gauguin concordou em visitar Arles em 1888, com Van Gogh esperando alcançar uma amizade e a realização da sua ideia de um coletivo de artistas. Enquanto esperava, ele pintou Girassóis em agosto. Boch visitou novamente e Van Gogh lhe pintou um retrato, além do estudo O Poeta Contra um Céu Estrelado

Gauguin finalmente chegou em 23 de outubro depois de vários pedidos de Van Gogh, com os dois começando a pintar juntos no mês seguinte. Gauguin representou Van Gogh em O Pintor de Girassóis, enquanto Van Gogh seguiu a sugestão do colega e pintou imagens apenas da memória.


Van Gogh e Gauguin visitaram Montpellier em dezembro de 1888, onde viram os trabalhos de Gustave Courbet e Eugène Delacroix no Museu Fabre. A relação dos dois começou a deteriorar; Van Gogh admirava Gauguin e queria ser tratado como um igual, porém Gauguin era arrogante e dominador, o que frustrou Van Gogh. 
 Eles muitas vezes brigavam; Van Gogh temia cada vez mais que Gauguin o abandonasse, e a situação, que Van Gogh descreveu como de "tensão excessiva", rapidamente se dirigia para o ponto de crise


L'Arlesienne - Madame Ginoux


L'Arlésienne é pronunciado 'lar lay zyen'; Significa literalmente "a mulher de Arles".

O tema é sobre  Marie Jullian (ou Julien ) nascida em Arles 8 de junho de 1848 e que se casou com Joseph-Michel Ginoux em 1866. Juntos eles dirigiram o Café de la Gare onde van Gogh alojou-se de maio a meados de setembro de 1888. Ele estava mobiliando  a Casa Amarela em Arles para se estabelecer lá.

Nessa época, as relações de Van Gogh com M. e Mme. Ginoux eram apenas comercial (o café é tema do The Night Café ), mas a chegada de Gauguin em Arles alterou a situação. 

O galanteio  encantou a dama, então com cerca de 40 anos de idade, e nos primeiros dias de novembro de 1888 Madame Ginoux concordou em ter uma sessão de retratos para Gauguin e seu amigo Van Gogh. Dentro de uma hora, Gauguin produziu um desenho de carvão, enquanto Vincent produziu uma pintura em grande escala, "nocauteado em uma hora".


 quadro Arlesiana cópia do Museu d'Orsay
L'Arlesienne, 1888, Museu d'Orsay
 quadro Arlesiana cópia do Metropolitan
L'Arlesienne, 1888,
Metropolitan -Nova Yorque


Pouco tempo depois Van Gogh reproduziu o quadro original agora em tela com óleo fazendo pequenas modificações. Ele substituiu a sombrinha e as luvas pelos livros. 

A mutilação da Orelha e o período no Hospital de Arles


Não se sabe a exata sequência de eventos que levaram à mutilação da orelha esquerda de Van Gogh. Gauguin afirmou quinze anos depois que houve várias instâncias na noite anterior de um comportamento fisicamente ameaçador. 

É provável que Van Gogh tenha percebido que Gauguin planejava ir embora. Os dias anteriores foram muitos chuvosos, o que fez com que os dois homens ficassem presos dentro da Casa Amarela. Gauguin relatou que saiu para caminhar e foi seguido por Van Gogh, que "correu na minha direção, uma lâmina na mão".  Este relato não é corroborado; Gauguin quase certamente não estava na casa durante aquela noite, mais provavelmente tendo ficado em um hotel.

Van Gogh voltou para a Casa Amarela depois de ter brigado com Gauguin, ouvindo vozes e cortando sua orelha esquerda com uma lâmina, não se sabe se parcialmente ou totalmente, causando um sangramento sério. Ele enfaixou a ferida, enrolou a orelha em papel e enviou o pacote para Gabrielle Berlatier, criada de um bordel que frequentava com Gauguin. Van Gogh foi encontrado inconsciente na manhã seguinte por um policial e levado ao hospital, onde foi tratado por Félix Rey, um jovem médico ainda em treinamento. A orelha foi entregue no hospital, porém Rey não tentou recolocá-la pois muito tempo já tinha passado.



 quadro autorretrato com cachimbo - quadro com o fundo vermelho
autorretrato com cachimbo, 1888,Tate Gallery, Londres
 quadro autorretrato com o curativo - fundo esverdeado
autorretrato com curativo, 1888, Courtauld Institute, Londres



Van Gogh não tinha memórias do incidente, o que sugere que talvez tenha passado por um surto mental agudo. O diagnóstico do hospital foi "mania aguda com delírio generalizado", com a polícia local ordenando dias depois que ele fosse deixado nos cuidados do hospital. 


Gauguin imediatamente notificou Theo, que em 24 de dezembro havia pedido em casamento Johanna Bonger, irmã de seu amigo Andries Bonger. Ele correu para a estação na mesma tarde e pegou um trem noturno para Arles. Theo chegou na manhã de natal e confortou o irmão, que parecia semi-lúcido. Ele retornou para Paris naquela tarde.


Apesar dos diagnósticos pessimistas, Van Gogh recuperou-se e voltou para a Casa Amarela em 7 de janeiro de 1889. Ele passou os meses seguintes entre hospital e casa, sofrendo alucinações e delírios de envenenamento. 


Ele deixou Arles logo depois e se internou voluntariamente em um hospício de Saint-Rémy-de-Provence


VII.- Saint Rémy 


Van Gogh se internou no hospício de Saint-Paul-de-Mausole em 8 de maio de 1889 acompanhado por seu cuidador Frédéric Salles, um clérigo protestante. O local era um antigo mosteiro em Saint-Rémy, menos de trinta quilômetros de Arles, administrado pelo ex-médico naval Théophile Peyron. Van Gogh tinha duas celas com janelas gradeadas, uma das quais ele usou como estúdio.


A clínica e seu jardim tornaram-se temas de seus quadros. Ele realizou vários estudos dos interiores do hospital como Corredor no Hospício e Entrada do Hospício. Algumas de suas obras da época foram caracterizadas por redemoinhos, por exemplo A Noite Estrelada. Era lhe permitido pequenas caminhadas supervisionadas, que levaram a pintura de ciprestes e oliveiras, incluindo Oliveiras com Alpilles ao Fundo, Campo de Trigo com Ciprestes e Estrada com Cipreste à Noite. Ele produziu outras duas versões de Quarto em Arles em setembro de 1889


Noite Estrelada (Starry Night)


Ao contrário de muitas outras de suas obras, A Noite Estrelada foi pintada de memória e não a partir da vista correspondente de uma paisagem, como de costume. Durante sua estadia no asilo, Van Gogh se dedicou a pintar sobre todas as paisagens da região de Provence. É nesse período que o artista rompe com o que se poderia chamar de fase impressionista, desenvolvendo um estilo muito particular, no qual prevalecem fortes cores primárias, tais como o amarelo, para as quais van Gogh atribuía significados próprios.



 quadro Noite estrelada com as estrelas pintadas como bolas luminosas
Noite estrelada, Van Gogh, 1889


O ponto interessante é que quando Van Gogh foi enviar para seu irmão em Paris, algumas telas para serem comercializadas, ele deixou de lado essa Noite Estrelada pois ele não via nela um grande valor.

VIII - Auvers-sur-Oise

Van Gogh tinha deixado a Provence em maio 1890, após a sua estadia voluntária no asilo em Saint-Rémy. Mudou-se para Auvers-sur-Oise, ao norte de Paris.

a) "Igreja de Auvers" (Eglise sur Auvers-sur-Oise)

"Este trabalho e outros como ele, ilustram o estilo e a influência artística de van Gogh em pintores expressionistas: A distorção da realidade é óbvia, e é facilmente notada a recusa de perspectiva que vai caracterizar obras expressionistas." (Wikipedia francesa)


 quadro Igreja de Auvers - mostra a frente de uma igreja com um fundo azul bem intenso
Igreja de Auvers, 1890



"Próximo do fechamento de um ciclo anunciado havia cinco anos, quando já eram vigorosas a consciência e ambição de querer se tornar um pintor "colorista", Van Gogh apegou-se a um tema que lembrava a sua vocação religiosa sacrificada pela pintura, e ressalta os progressos feitos no estudo da cor durante a estada na Provence." (coleção abril cultural)

b) "Cabanas com Telhados de Palha em Auvers-sur-Oise" - Vincent van Gogh (1890) - Musée d'Orsay - Paris


Este quadro foi pintado durante o período mais frenético de criação da carreira do artista, apenas algumas semanas antes de seu trágico fim.

Em 10 de junho, ele escreveu a seu irmão Theo informando que ele tinha feito "dois estudos de casas de campo."

Corot, Daubigny, Pissarro e Cézanne já tinham evocado o encanto pacífico de Auvers-sur-Oise. Van Gogh vai transformá-la em uma terra vulcânica onde as casas parecem torcidas por um terremoto. É uma verdadeira transmutação impulsionada por forças psíquicas a que o pintor submete a paisagem.

 Cabanas com telhados de palha
Cabanas com Telhados de Palha em Auvers-sur-Oise" - Vincent van Gogh (1890)



As casas tranquilas com telhados de palha, que ainda pode ser vistas em fotografias antigas, parecem levantada por alguns poderosa força telúrica que amplia volumes. O desenho desgrenhado, girando, faz ondular o telhado, enrola em espirais os galhos de árvores, e transforma as nuvens em arabescos. Além disso, o material pictórico é trabalhado na forma de impasto, cavado na sua espessura por sulcos reais.

Obviamente, ele não é o artista que, como os românticos, está abalado pela paisagem imponente. Pelo contrário, é ele que atormenta e inflama qualquer casebre e qualquer cipreste. Como no Céu estrelado (starry night) de 1889 (New York, MoMA), todos os elementos da paisagem são unificados nas voltas de seus contornos e conferem a toda vista um aspecto antástico. (livre tradução de comentário do Musée d'Orsay)


c) Morte - "A tristeza vai durar para sempre"


Van Gogh disparou um tiro contra seu peito em 27 de julho de 1890. Não houve testemunhas e ele morreu trinta horas depois. O disparo talvez tenha ocorrido no campo de trigo em que estava pintando ou em um celeiro local. A bala foi desviada por uma costela e atravessou seu peito sem aparentemente danificar os órgãos internos, provavelmente parando em sua espinha. Ele foi capaz de voltar andando até Auberge Ravoux, onde foi atendido por dois médicos, porém não havia um cirurgião e assim a bala não pode ser removida. Os médicos cuidaram dele da melhor maneira que puderam e então o deixaram sozinho em seu quarto fumando cachimbo. Theo correu para junto do irmão no dia seguinte, encontrando-o de bom humor. Porém Van Gogh começou a enfraquecer horas depois, sofrendo de uma infecção não tratada causada pelo ferimento da bala. Ele morreu nas primeiras horas da manhã de 29 de julho de 1890. Theo afirmou que as últimas palavras do irmão foram "A tristeza vai durar para sempre"


IX - Referências


Observação 1: Esse post se destina apenas a divulgação cultural do trabalho de Van Gogh. Nada do texto é produção exclusiva do nosso site. Não visamos nenhum aspecto lucrativo. Pelo contrário, temos custos e despesas de divulgação.

Observação 2: A quase totalidade desse texto foi resumida da Wikipédia no artigo referente a Vicent Van Gogh. Utilisamos também os artigos sobre os quadros específicos. O restante do texto foi retirado das fontes citadas abaixo;

Observação 3: As fotos também foram retiradas da internet / wikimedia commons, uma vez que as imagens são de domínio público

Fontes Principais:


Wikipedia - Vincent Van Gogh / L'Arlesienne / Starry night / Pére Tangui / Quarto em Arles / Girassóis / A moça com laço vermelho

Livro "A História da Arte" - Graça Proença

Coleção Grandes Mestres (Abril Cultural) - Van Gogh

Filme: A Vida de Van Gogh

Site Oficial do Museu d'Orsay

X - Outras Publicações


Impressionistas
a) Edouard Manet
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2016/02/manet-ou-monet-eis-questao.html

b) Claude Monet
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2016/02/monet-ou-manet-ambos-impressionismo-ii.html

c) Pierre Renoir
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2016/05/renoir-impressionistas-iii.html


Pós Impressionistas
a) Paul Cézanne
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2016/06/pos-impressionismo-i-paul-cezanne.html

b) Paul Gauguin (Em desenvolvimento)

c) Vincent Van Gogh (Esse post)
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2017/04/pos-impressionismo-iii-vincent-van-gogh.html

Expressionistas
a) Edvard Munch
https://historiacomgosto.blogspot.com.br/2017/03/edvard-munch-o-precursor-do.html

Van Gogh e as Releituras de Millet



terça-feira, 25 de abril de 2017

O Brasil de Debret I - Grupo Indígena

I. - Jean Baptiste Debret (1768 - 1848)



Pintor e desenhista, Debret foi um dos principais personagens da Missão Artística Francesa que aportou no Brasil a 26 de março de 1816, com a finalidade de implantar aqui uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. O grupo era chefiado por Joachim Lebreton e Debret o  integrava como pintor histórico. 

Histórico e Formação de Debret na França




autorretrato de Debret
autorretrato - Debret
Jean Baptiste era filho de Jacques Debret, funcionário do parlamento francês e estudioso de História Natural e Arte, e irmão de François Debret (nascido em 1777), arquiteto, membro do Institut de France.


Como a Revolução Francesa necessitava de engenheiros que entendessem de fortificações foram  então  selecionados alguns dos alunos mais brilhantes para o curso de Engenharia. Debret foi um dos escolhidos, tendo estudado engenharia por cinco anos, seguindo a tradição da família, na École Nationale des Ponts et Chaussées.


Depois de formado, em janeiro de 1795 foi contratado como desenhista de 3a classe na École Centrale des Travaux Publics (futura École Polytechnique) que apenas começava suas atividades. Em dezembro do mesmo ano passa a professor de desenho. Em abril de 1796, sua vaga foi extinta e ele deixa a École Polytechnique. 

Apesar da carreira de engenheiro, Debret voltaria à pintura. Expôs no salão de 1798 um quadro com figuras de tamanho natural com o qual ganhou o segundo prêmio.

Debret frequentou então a Academia de Belas Artes na França, na qual foi aluno do pintor Jacques-Louis David, o principal nome do neoclassicismo francês.

II. - Debret no Brasil


a) Os objetivos da Missão


Quando o grupo chegou ao Brasil, em 1816, o ambiente político estava um pouco conturbado com o falecimento de Dona Maria I, uma revolução em Pernambuco e situação instável na Europa. Além disso, o projeto começou a enfrentar resistências por parte dos artistas locais e dos mestres portugueses  fortemente ligados ao barroco. Mesmo assim Dom João VI assinou um decreto se comprometendo com o pagamento aos artistas franceses para que eles implantassem então a Escola Real de Artes e Ofícios. 

Prejudicaram ainda o trabalho da implantação da escola a morte do Conde da Barca, incentivador do projeto, em 1817, a morte do Lebreton em 1819 e a lenta aprovação e construção do edifício onde seria implantada a Academia. 

Foi apenas em dezembro de 1826, que foi finalmente inaugurada a Academia Imperial de Belas Artes. 

b) A disseminação do conhecimento  


Enquanto não se chegava ao consenso do que ensinar, como ensinar e ainda onde ensinar, os artistas franceses foram sendo encarregados de outros trabalhos na corte. Debret inicialmente pintou vários quadros de Dom João VI, e posteriormente de Dom Pedro I.

auqdro de Dom João VI em pé em trajes reais
Dom João VI, Debret, Museu Nacional de Belas Artes


Após a inauguração,  Debret atuou como professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes no Brasil, entre 1826 e 1831. No ano de 1829, promoveu a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Belas Artes, que se tornou a primeira mostra pública em território nacional. Retornou à França, em 1831, e editou o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, em três volumes, deixando um amplo registro sobre os costumes e a paisagem brasileira.


III. - Os Registros de Debret - Pranchas e Comentários


No seu livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret fez ao lado de cada prancha um registro histórico dos povos e costumes que ele retratava. Ele dedicou atenção especial às três classes representativas do País na ocasião: Os índigenas, os negros escravos, e os colonizadores portugueses com os seus costumes sociais no Rio de Janeiro; É através desses registros, e de outras missões similares,  que obtemos as melhores fontes de conhecimento para entendermos o Brasil da época 1816 a 1831; 

A seguir reproduzimos algumas pranchas com um resumo dos comentários de Debret associado com elas;


Grupo Indígena 


a) Família do chefe Camacã se preparando para Festa - Prancha 3


Entre as tribos selvagens brasileiras conhecidas pelo nome genérico de Camacãs, distingue-se a tribo dos mongoiós, herdeiros do caráter primitivo da célebre raça dos tapuias, de quem se mostram dignos descendentes pelo valor e pela astúcia. 

Retirados no  fundo das florestas sombrias onde foram esconder sua vergonha e seus desesperos, após a inútil mas corajosa e tenaz defesa de seu território invadido pelos portugueses, continuam, embora atualmente disseminados, sempre ciosos dos encantos da independência. 


família camacã se preparando para a festa, o foco está no pai com o cocar, a mães está sentanda na rede já pronta mas dando de mamar ao bebê
Família Camacã se preparando para festa, Debret 


As florestas do sertão contíguas a Minas Gerais, são a sede principal dessa estranha tribo de guerreiros, e as margens do rio Piabanha servem de limite a seu território  às excursões dos pataxós, seus vizinhos. Aí é que se encontram as pequenas aldeias em que vivem , em estado de completa selvageria, alimentando-se de caça e não raro, tão pouco exigentes na escolha de seus alimentos que chegam a comer carne putrefata. Os mongoiós que atingiram, por assim dizer um primeiro grau de civilização, cultivam algumas plantas nutritivas; mas é principalmente nas aldeias civilizadas que se pode observar com interesse a construção de suas cabanas, feitas de taipa, bem como a solidez dos telhados de casca de árvore.

Todos sem exceção, pintam o corpo para se enfeitar durante os dias de festa, e nunca deixam de fazer essa toilette quando desejam receber com cerimônia os estrangeiros que os visitam e que encontram entre os mongoiós, ainda que pouco civilizados, um acolhimento amistoso.


b) Caboclos ou índios civilizados - Prancha 5


Na província do Rio de Janeiro dá-se o nome genérico de caboclo a todo o índio civilizado, isto é, batizado. Um exemplo é a aldeia de São Lourenço, fundada em 1567 por um governador português, e que constituiu-se, a princípio, da reunião de diversas tribos já civilizadas, às quais, poucos anos depois os jesuítas juntaram os goitacases que acabavam de catequizar.

Esses caboclos vivem de sua indústria de cerâmica de barro e diferentes espécies de esteiras feitas de caniços. Eles dedicam-se, igualmente com êxito, à navegação; alguns mesmo habitam com suas famílias o arsenal da marinha, empregando-se especialmente no serviço de canoas particulares do imperador do Brasil. 

A extraordinária atitude do índio flechador da prancha 5, bem demonstra de maneira completa e irrefutável a sua espantosa habilidade. 


índio caboclo deitado em posição de lançar flecha segurando o arco com os pés e a flecha com as mãos
Caboclo, Debret

Ficar assim de costas e lançar com todo o vigor uma flecha, de uma maneira quase incrível para nós, não passa para o caboclo de um simples exercício de destreza, oferecido à contemplação dos viajantes estrangeiros que o visitam.


c) Família Indígena em Movimento - Prancha 17


Os indígenas selvagens chamados de guaicurus encontram-se no Brasil, na província de Goiás, à margem do Uruguai, e também na província de Mato Grosso. Excelentes cavaleiros, são conhecidos pela sua habilidade em domar cavalos selvagens que pastam em liberdade nos campos dessa parte da América.

A principal ocupação dos guaicurus consiste no comércio das diferentes espécies de animais que eles reúnem nas vastas pastagens onde costumam construir suas habitações;

Sua antiga civilização fá-los parentes dos guaranis; Da mesma forma que eles, adotam um sistema de classes diferentes, três das quais bem distintas; a) nobres capitães e chefes de família que comandam soldados e escravos; b) soldados que só combatem a cavalo e estão sujeitos a disciplina militar; c) escravos, prisioneiros de guerra, que fazem toda espécie de trabalhos domésticos;


quadro de uma familia indígena em movimento com a mulher com o bebê no cavalo da frente e o homem atrás. pintura com tom azulada. lembra também a fuga da sagrada família para o Egito
família indígena em movimento, Debret



d) Índios da Missão de São José - Prancha 19


É fácil reconhecer, à primeira vista, a delicadeza inata do gosto dos selvagens civilizados da missão de São José, tanto pela regularidade simétrica das linhas de sua tatuagem quanto pela engenhosa imitação, ingenuamente grotesca, da indumentária militar européia, cujas cores características aplicada na pele o músico selvagem lembra nessa pracha. 

Esses índios de civilização antiga, menos musicistas do que os guaranis, têm apenas o tambor como instrumento de dança; 

índios guaranis tatuados com cores lembando uniformes europeus participando de uma roda de dança
Índios da Missão São José, Debret


Em geral bem feitos, ágeis e alegres, além de inteligentes, conservam também um sentimento de pudor que inspirou às mulheres o luxo de fabricar saiotes guarnecidos de plumas; 


e) Pranchas 28 e 29 - Cabeças, Toucados e penteados de diferentes tribos



Da esquerda para a direita e de cima para baixo;

Cabeças: 1 - Iuri, selvagem, belicoso; 2 - Maxuruna; 3 - Iuripace; 4 - Mura; 5 - Bororeno, de uma selvageria temível; 6 - Iuma; 7 - Coroados; 8 - Botocudos; 9 - Mulher puri; 10 - cabeça de botocudo mumificada pelos pataxós; 11 - cabeça de puri, mumificada pelos coroados;



cabeças e toucas de diferentes tribos indígenas cabeças e toucas de diferentes tipos indígenas


Toucados e Cabeças: 1 - toucado lembrando um capacete antigo; 2 - toucado com duas asas que lembram os capacetes saxões; 3 - toucado mais simples; 4 - ìndio miranha, notável pela mutilação da cabeça; 5 - Coroado da província de Goiás; 6 - Mandrucu, guerreiro reconhecido pelo grande número de listas sobre o corpo; 7 - Arara, nome tirado da ave; 8 - Bororó, selvagem que vive em terra aurífera; 9 - Iupuá. O arranjo do penteado lembra o estilo chinês;


IV - Referências


Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil - Jean Baptiste Debret - Edição Itatiaia

Wikipedia - Jean Baptiste Debret e Missão Francesa ao Brasil


V - Outras Publicações da Série


Com o intuito de tornar a leitura mais atraente, dividimos essa série em três partes:


O Brasil de Debret I - Grupo Indígena