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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Os Entrudos - Carnaval do século XVII ao século XIX

I - Entrudos


Na era cristã, a explicação etimológica para o termo «Carnaval» aponta para a palavra carnisvalerium (carnis de carne, valerium, de adeus), o que designaria o «adeus à carne» ou à «suspensão do seu consumo», em função da quadra seguinte: a Quaresma, em que a carne é abolida da alimentação na religião cristã.

A própria designação «Entrudo» – ainda muito utilizada entre nós, principalmente no meio rural –, do latim introitus (intróito), apresenta igual significado: o de introduzir, dar entrada, começo ou anunciar a aproximação da quadra quaresmal. Em Portugal, uma das primeiras referências ao Entrudo, encontra-se num documento datado de 1252, no reinado de D. Afonso III, embora não propriamente relacionado com as festividades carnavalescas, mas com o calendário religioso.

Na época de D. Sebastião, são várias as menções que salientam as brincadeiras do Entrudo, entre elas a do «lançamento de farelos», que nem sempre acabavam bem.«Entrudos» (ou «entruidos») é também o nome atribuído em diversos lugares aos próprios mascarados, consoante as regiões de Portugal.

In “Festas e Tradições Portuguesas”, Vol.II Ed. Círculo de leitores

O costume de se brincar no período do carnaval foi introduzido no Brasil pelos portugueses, provavelmente no século XVII, com o nome de 'Entrudo. O registro mais antigo é de 1600.  

A brincadeira do entrudo, típica da região de Açores e Cabo Verde, consistia em um jogo em que as pessoas sujavam umas às outras com tintas, farinha, ovos e também atiravam água.

 desenho de uma cena de entrudo em 1880 com as pessoas jogando água umas nas outras
Cena de entrudo em 1880, em desenho de Angelo Agostini

Já na Idade Média, costumava-se comemorar o período carnavalesco em Portugal com toda uma série de brincadeiras que variavam de aldeia para aldeia. Em algumas notava-se a presença de grandes bonecos, chamados genericamente de "entrudos".

A denominação genérica de Entrudo, entretanto, engloba toda uma variedade de brincadeiras dispersas no tempo e no espaço. Aquilo que a maioria das obras descreve como Entrudo, é apenas a forma que essas brincadeiras adquiriram a partir de finais do século XVIII na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo aí, a brincadeira não se resumia a uma única forma. Havia, na verdade vários tipos de diversões que se modificavam de acordo com o local e com os grupos sociais envolvidos.

Atualmente, como explica o pesquisador Felipe Ferreira, em O livro de ouro do carnaval brasileiro, entende-se que existiam, no Rio de Janeiro do início do século XIX, duas grandes categorias de Entrudo: O Entrudo Familiar e o Entrudo Popular.

II - Os tipos de Entrudo


a) Entrudo Familiar

  • Acontecia dentro das casas senhoriais dos principais centros urbanos. Era caracterizado pelo caráter delicado e convivial e pela presença dos limões de cheiro que os jovens lançavam entre si com o intuito de estabelecer laços sociais mais intensos entre as famílias.
    desenho de um entrudo familiar que era a brincadeira dentro de casa
Brincadeira de Carnaval, Augustus Earle, Biblioteca Nacional da Australia

b) - Entrudo Popular

  • Era a brincadeira violenta e grosseira que ocorria nas ruas das cidades. Seus principais atores eram os escravos e a população das ruas, e sua principal característica era o lançamento mútuo de todo tipo de líquidos (até sêmem ou urina) ou pós que estivessem disponíveis. Além de que se os brancos também brincassem, os negros que estavam participando não podiam "mela-los" pois poderiam ser presos. 
                   
 cena de carnaval de Jean Baptiste Debret em que os escravos brincam de jogar água e pó branco uns nos outros
Carnaval, Jean Baptiste Debret, Viagem Pictórica ao Brasil


Obs: Entre esses dois extremos havia toda uma variedade de "Entrudos" que envolviam em maior ou menor grau grande parte da população dos principais centros urbanos do país.


III - A batalha contra o Entrudo


O entrudo foi proibido várias vezes no Brasil sem grandes resultados. A primeira vez foi logo em 1604, quatro apenas após a sua introdução na nossa terra.

A partir dos anos 1830, uma série de proibições se sucedem na tentativa, sempre infrutífera, de acabar com a festa grosseira.


Combatido como jogo selvagem, o entrudo continuou a existir com esse nome até as primeiras décadas do século XX e existe até hoje no espírito das brincadeiras carnavalescas mais agressivas, como a "pipoca" do carnaval baiano ou o "mela-mela" da folia de Olinda.

IV - A cidade de Arraias, Tocantins


Nascida no tempo em que o ouro era elemento de cobiça, Arraias foi povoada a partir da descoberta de jazidas auríferas situadas no alto da Chapada dos Negros, distante 3 km da atual cidade. A partir de então, uma rica cultura foi desenvolvida e anos de história são revelados nos muros de pedras feitos pelos escravos, nas festas populares como o Entrudo e no belo casario em estilo colonial.(Turismo.to)


 foto de casario da cidade de Arraias em Tocantins
Casario de Arraias, Tursimo.To

O local chegou a ter 10 mil garimpeiros, sendo na sua maioria composta de negros. Arraias possui lindas planícies, cortadas por cursos d’águas. A cidade com suas ruas sinuosas e estreitas, pequenas ladeiras e antigas muralhas de pedras guarda muitas histórias.

 mapa mostrando a localização de Arraias no Tocantins
Localização de Arraias, dentro da demarcação vermelha


É a cidade mais alta do estado do Tocantins e a segunda cidade mais alta de toda a Região Norte do Brasil, estando situada a uma altitude média de 722,40 metros. Arraias é também a cidade mais fria do Tocantins e uma das mais frias de toda a Região Norte do país. Sua população estimada em 2004 era de 10 970 habitantes.

A distancia de Brasilia para Arraias é de 433 Km, e a viagem dura 5 horas. De Palmas para Arraias a distância é de 472 Km e o percurso dura 06 horas. 

V - O Entrudo de Arraias, Tocantins


Atualmente o Entrudo, mais próximo de suas origens, é o que sobrevive na cidade de Arraias, estado do Tocantins, a 446 km de Palmas. A presença do Entrudo no Carnaval arraiano é tradição antiga, que vem desde o século XVIII, caracterizado pela alegria, espontaneidade, pacífico, onde participam crianças, jovens, adultos e terceira idade; acontece com o envolvimento quase total da comunidade local.

A festa é conhecida regionalmente como o carnaval mais animado do estado do Tocantins, os blocos são formados por amigos, familiares, conhecidos e convidados - coordenados pela Comissão local organizadora do Entrudo. A cada dia de carnaval a Comissão e todos os blocos participantes iniciam marcha carnavalesca que sai por volta das 7h da manhã da casa do folião responsável por um dos blocos integrantes do Entrudo.

 foto do carnaval de Arraias nos dias atuais
Carnaval de Arraias, foto: blog www.dinomarmiranda.com /2015


A tradição preconiza que todos os participantes da marcha devem ser molhados com água, antes do início da mesma. Após atendido este quesito, os carnavalescos tomam caldo quente, geralmente feito a base de mandioca e carne para aquecer o corpo, oferecido pelo dono da casa; em seguida, a marcha percorre o itinerário do entrudo, passa pelas casas dos foliões responsáveis pelos demais blocos, e também pelos principais pontos históricos da cidade até finalizar na Praça da Matriz de Arraias, onde junta-se ao grande baile público de carnaval. 

Durante toda a festa é comum observar o ato de jogar água em quaisquer pessoas presentes, conhecidas ou não. Sendo que tanto os locais, quanto visitantes estão com o espírito aberto para a brincadeira, sem direito à apelação. Durante toda a marcha há o consumo de bebida e farofa. Interessante lembrar que toda essa marcha termina por volta das 5 ou 6h da tarde, e que o percurso é composto por ladeiras sinuosas e estreitas com piso tipo paralelepípedo.

Há vários blocos do Entrudo, mas nem todos participam da marcha, sendo que alguns apenas esperam a chegada do Entrudo na Praça da Matriz ou mantém suas atividades concentradas no centro da cidade.

VI - Referências


Wikipedia - Entrudos
Viagem Pictórica ao Brasil / Debret - Entrudos
Arraias - Turismo.To
Entrudo de Arraias - Turismo.To e Blog www.dinomarmiranda.com

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Música Popular de Minas I - Clube da Esquina

I - A música popular de Minas Gerais


A música se faz presente em Minas Gerais desde o período colonial. Os primeiros instrumentos musicais a adentrarem o estado foram trazidos pela Companhia de Jesus na segunda metade do século XVI, com objetivo de converterem os indígenas aos costumes europeus, difundindo a música barroca. Por décadas, os jesuítas foram responsáveis tanto pelo ensinamento da gramática e do latim quanto pela alfabetização musical nas escolas. 

No século XVIII, destacou-se a obra barroca de Lobo de Mesquita.  A partir do século XIX, as bandas de música se desenvolvem a ponto de serem hoje um dos marcos de identidade cultural do estado. Na primeira metade do século XX, destacam-se o samba, a bossa nova, o chorinho e as marchinhas com os compositores Ary Barroso, de Ubá, e Ataulfo Alves, de Miraí.

Na década de 1970, surge em Belo Horizonte o movimento Clube da Esquina, cujas maiores influências eram a bossa nova e os Beatles.  Na década de 80, destacaram-se mundialmente Sepultura e Sarcófago e na década de 90, surgem Skank, Jota Quest, Pato Fu e Tianastácia. Às primeiras décadas do século XXI, surgem artistas musicais como César Menotti & Fabiano e Paula Fernandes. (Wikipedia: Musica popular mineira)

II - Clube da Esquina


Clube da Esquina surgiu da grande amizade entre Milton Nascimento, e os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô), no bairro de Santa Tereza, Belo Horizonte, em 1963, depois que Milton chegou à capital para estudar e trabalhar. Milton acabara de chegar de Três Pontas, cidade onde morava a família e onde tocava na banda W's Boys com o pianista Wagner Tiso; com Marilton foi tocar na noite, no grupo Evolusamba. Compondo e tocando com os amigos, despontava o talento, pondo o pé na estrada e na fama ao vencer o Festival de Música Popular Brasileira e ao ter uma de suas composições, "Canção do sal", gravada pela então novata Elis Regina

O nome Clube da Esquina


Fãs dos Beatles e The Platters novos integrantes vieram juntar-se: Flávio Venturini, Vermelho, Tavinho Moura, Toninho Horta, Beto Guedes e os letristas Fernando Brant e Ronaldo Bastos. 

O nome do grupo foi ideia de Márcio que ao ouvir a mãe perguntar dos filhos, ouvia a mesma resposta: "Estão lá na esquina, cantando e tocando violão." Outra versão dada por Lô Borges nos "bastidores" do seu DVD "INTIMIDADE" de 2008, diz que o nome "Clube da Esquina" se deu por acaso, quando um amigo abonado, passando de carro pela esquina onde ele e os amigos se reuniam, resolveu convidá-los para seguir com ele para um clube onde a rapaziada mais abastada costumava se divertir. Como a condição econômica deles não permitia frequentar clubes, um deles respondeu: "Nosso clube é aqui, na esquina!";
(Wikipedia: Clube da Esquina)

Principais integrantes do Clube da Esquina:


Flávio Venturini, Vermelho, Tavinho Moura, Toninho Horta, Lô Borges, Márcio Borges, Fernando Brant, Beto Guedes, Wagner Tiso e Milton Nascimento, Ronaldo Bastos.


III - Músicas representativas dos integrantes do Clube da Esquina


a) Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant)


Miton Nascimento é carioca de nascmento e mineiro de coração. Veio a tornar-se conhecido nacionalmente, quando a canção "Travessia", composta por ele e Fernando Brant, ocupou a segunda posição no Festival Internacional da Canção, de 1967. 

Na pensão onde foi morar na capital mineira, no Edifício Levy, Milton conheceu os irmãos Borges, Marilton , Lô e Márcio. Dos encontros na esquina das ruas Divinópolis com Paraisópolis, no tradicional bairro belorizontino de Santa Tereza, surgiram os acordes e letras de canções como "Cravo e Canela", "Alunar", "Para Lennon e McCartney", "Trem Azul", "Nada Será Como Antes", "Estrelas", "São Vicente" e "Cais".


Teve como parceiros e músicos que regravaram suas canções, nomes como: Wayne Shorter, Pat Metheny, Björk, Peter Gabriel, Sarah Vaughan, Chico Buarque, Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Fafá de Belém, Simone e Elis Regina. Já recebeu 5 prêmios Grammy. Em 1998, ganhou o Grammy de Best World Music Album in 1997. Milton já se apresentou na América do Sul, América do Norte, Europa, Ásia e África.

Fernando Brant, é mineiro, sua entrada no ramo musical foi em 1966, quando Nascimento o convidou para colocar, pela primeira vez, letra em uma melodia. O resultado foi "Travessia", inspirada na obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. 





b) Um girassol da Côr dos seus Cabelos (Lô Borges)


Salomão Borges Filho, mais conhecido como Lô Borges nasceu em Belo Horizonte, 10 de janeiro de 1952.  Entre suas composições mais famosas destacam-se, entre outras, "Paisagem da Janela", "Um girassol da côr dos seus cabelos","Para Lennon e McCartney", "Clube da Esquina n.º 2" e "O Trem Azul". 

É considerado um dos compositores mais influentes da música brasileira, tendo sido gravado por Elis Regina, Milton Nascimento, Flávio Venturini, Beto Guedes, Nenhum de Nós, Ira!, 14 Bis, Skank, Nando Reis, entre outros.







c) Amor de Índio (Beto Guedes e Ronaldo Bastos)


Beto Guedes é mineiro e desde a adolescência tocava em bandas. Aos 18 anos participou do V Festival Internacional da Canção, com sua composição Feira Moderna, em parceria com Fernando Brant. Tendo a música mineira como uma de suas principais influências (ao lado do rock dos anos 1960 e dos choros que o pai seresteiro compunha), participou ativamente do Clube da Esquina



d) Manoel Audaz (Toninho Horta / Fernando Brant)


Toninho Horta é um compositor, arranjador, produtor musical e guitarrista mineiro. Foi escolhido como o 5º melhor guitarrista do mundo pela revista britânica "Melody Maker" em 1977 e 7º melhor guitarrista em 1978, pela mesma revista. Em 2012, foi incluído na lista dos 30 maiores ícones brasileiros da guitarra e do violão da revista Rolling Stone Brasil.

Por seu talento extraordinário, Toninho tocou com músicos renomados do jazz mundial, como Sergio Mendes, Gil Evans, Flora Purim, Astrud Gilberto, Naná Vasconcelos, Paquito De Rivera, Airto Moreira, Wayne Shorter, Eliane Elias, Herbie Hancock, Keith Jarrett, George Benson,Pat Metheny Flavio Sala e muitos outros.

A música "Manoel Audaz" fala de um Jipe (um Land Rover 1951), velho e bravo companheiro de guerra, cujo nome foi inspirado em uma personagem do escritor mineiro Guimarães Rosa em seu Grandes Sertões: Veredas, e que, subindo e descendo as montanhas, atravessando paisagens bucólicas, cruzando rios e estradas de terra, conduzia uma gurizada afoita por bem-estar e aprendizado para tudo quanto era lugar que iam. 





e) Todo Azul do Mar (Flávio Venturini e Ronaldo Bastos)


Flávio Venturini foi também revelado nos anos 1970 pelo movimento Clube da Esquina. Participou do grupo musical O Terço, entre 1974 e 1976, antes de criar em 1979 o grupo 14 Bis, pelo qual fez sucesso entre 1980 e 1989, quando saiu do grupo para seguir carreira solo, também com grande sucesso.

Entre seus principais sucessos, como compositor ou intérprete, estão "Todo Azul do Mar", "Linda Juventude", "Planeta Sonho", "Nascente", "Nuvens", "Espanhola" (parceria com Guarabyra, da dupla Sá e Guarabyra), que é sua música mais conhecida e foi um grande hit entre 1986 e 1987.





f) Coração de Estudante (Milton Nascimento e Wagner Tiso)


Wagner Tiso Veiga (Três Pontas, 12 de dezembro de 1945) é um músico, arranjador, regente, pianista e compositor mineiro de formação erudita. Em 1970 passou a acompanhar MIlton com a banda que se tornaria, posteriormente, o lendário Som Imaginário ao lado de Zé Rodrix, Tavito, Robertinho Silva, Luiz Alves e Frederah.

Integrante do Clube da Esquina, logo começou a fazer sucesso no exterior, apresentando-se em Atenas e Montreux, e também acompanhando não só Milton, como também de Flora Purim, Ron Carter e Airto Moreira.

Wagner Tiso é considerado patrimônio musical da música mineira, brasileira e internacional.





g) Ronaldo Bastos, Tavinho Moura e Vermelho


Ronaldo Bastos

Fez parte do Clube da Esquina, juntamente com Milton Nascimento, Beto Guedes, Wagner Tiso, Lô Borges e Márcio Borges, a partir de 1967, e é autor de vários sucessos da música popular brasileira.

Foi parceiro de Ed Motta, Tom Jobim, Edu Lobo, Dori Caymmi, Flávio Venturini, Cleberson Horsth e Lulu Santos, entre outros. Em 1989, lançou o disco Cais, pelo selo Dubas, com vários artistas como Caetano Veloso, Simone Gal Costa, Tom Jobim, Chico Buarque e Paralamas do Sucesso cantando suas composições.

É autor dentre outras obras de "Seguindo o Trem Azul", "Fé cega e faca amolada", "Nada será como antes" e "Todo azul do Mar".

Tavinho Moura  é compositor mineiro da geração do Clube da Esquina. Gravou vários discos e trilhas sonoras de filmes, com notável expressividade no meio musical e cinematográfico.

Sua obra é principalmente composta por pesquisa e adaptação do folclore mineiro e brasileiro como por exemplo em "Calix Bento", adaptado da Folia de Reis, ou "Peixinhos do Mar", uma canção tradicional de marujada.


Vermelho, nome artístico de José Geraldo de Castro Moreira, (Capela Nova, 27 de abril de 1949), é um tecladista, vocalista, compositor e arranjador mineiro, fundador ao lado de Flávio Venturini do grupo 14 Bis. Antes integrou o grupo Bendegó.

IV - Referências


Wikipedia - Música Popular Mineira / Clube da Esquina / Milton Nascimento / Fernando Brant / Lô Borges / Beto Guedes / Toninho Horta / Flavio Venturini / Wagner Tiso / Tavinho Moura / Vermelho / Ronaldo Bastos.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Missão Artística Francesa no Brasil

I - Contexto Histórico


A partir de 1813, depois da queda definitiva de Napoleão Bonaparte, Portugal, que fora ocupado pelos franceses, pôde iniciar um processo de normalização de suas relações diplomáticas, comerciais e culturais com a França. Nesta altura a sede do reino português estava instalada no Rio de Janeiro, onde a corte se havia refugiado.


quadro Batalha de Waterloo com a derrota dos franceses
Batalha de Waterloo, pintura de William Sadler II 


O príncipe regente Dom João desde sua chegada havia procurado dinamizar a vida da então colônia. Entre outras medidas, abriu os portos brasileiros para as nações amigas, fundou o Banco do Brasil, fomentou uma indústria incipiente e estimulou a vida cultural especialmente na capital, e, no contexto das negociações do Congresso de Viena, em 1815 alçou o Brasil à categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.  


quadro da chegada de Dom João VI ao Brasil
Chegada de Dom João VI, óleo de Armando Martins Vianna
Do ponto de vista administrativo, não seria producente, para uma corte instalada no exílio, manter uma terra enorme sob o antigo perfil extrativista e agrário, com uma administração semifeudal, quando a metrópole estava talvez perdida para sempre, a ciência estava em alta e a indústria começava a se tornar desejada e necessária. Não havia garantia de quando a volta seria, se é que haveria um retorno, e assim melhor fazer esta imensidão ser competitiva diante da comunidade das nações.  Além disso a instituição de um sistema de ensino superior em artes e ofícios viria a minimizar o vazio provocado pela expulsão dos jesuítas, que antes administravam boa parte do ensino. 



quadro com a figura de Von Humboldt
Humboldt, por Joseph Stieler
Nesse ambiente de renovação, segundo Neves, António de Araújo e Azevedo, o 1.º conde da Barca, ministro do reino, teve a ideia de convidar alguns artistas franceses para que trouxessem para o Brasil elementos louváveis e desejáveis da civilização francesa. Com o estabelecimento de acordos comerciais com a França em 1815, se iniciaram as negociações para a organização do grupo. 

Como intermediários do governo português na França, estavam o embaixador Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho, Marquês de Marialva, e o encarregado de negócios em Paris, Francisco José Maria de Brito, que consultaram o naturalista Alexander von Humboldt a respeito do assunto. Humboldt indicou, então, o nome de Joachim Lebreton, que fora secretário do Institute de France e recém havia sido demitido por suas ligações com o finado regime bonapartista. Ele, por sua vez, assumiu a liderança do projeto e reuniu um grupo de interessados em se transferir para o Brasil, desde que o governo português financiasse a viagem e seu estabelecimento. (Texto retirado da Wikipedia.com - Missão artística francesa)


II - Os Componentes da Missão


O grupo aportou no Rio de Janeiro a 26 de março de 1816, a bordo do navio Calpe, escoltado por navios ingleses. Ele era liderado por Joachim Lebreton e foi amparado pelo governo de Dom João VI, mas seu trabalho tardou a frutificar, encontrando a resistência da tradição barroca firmemente enraizada e tendo de enfrentar a escassez de recursos financeiros e uma série de intrigas políticas que dissolveram boa parte do primeiro entusiasmo oficial pelo projeto.

Os franceses vindos nesta Missão deveriam, então, criar uma nova geração de artistas baseados nos princípios neoclássicos, que eram os mais modernos na época.

Principais artistas (fonte IPHAN Minc - www.cultura.gov.br)


Joachim Le Breton (1760-1819) 


quadro com a figura de Lebreton
LEBRETON, por Adelaide Labille-Guiard,1795
Conhecido como o chefe da Missão Artística Francesa, foi secretário perpétuo da Classe de Belas-Artes do Instituto da França e um intelectual muito respeitado, que trouxe além de seus conhecimentos um acervo de obras ainda não visto no Brasil. Foi o primeiro a se empenhar na missão de institucionalizar o ensino das artes no País. Morreu na cidade do Rio de Janeiro.







Jean Baptiste Debret (1768-1848) 

quadro com autorretrato de Jean Baptiste Debret
autorretrato Debret
Pintor e desenhista, Debret foi um dos principais personagens da Missão, deixando um amplo registro sobre os costumes e a paisagem brasileira. Frequentou a Academia de Belas Artes na França, na qual foi aluno do pintor Jacques-Louis David, o principal nome do neoclassicismo francês. Atuou como professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes no Brasil, entre 1826 e 1831. No ano de 1829, promoveu a Exposição da Classe de Pintura Histórica da Imperial Academia das Belas Artes, que se tornou a primeira mostra pública em território nacional. Retornou à França, em 1831, e editou o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, em três volumes.

Exemplos da Obra de Debret



gravura de Debret, dois escravos negros se preparando para carregarem cestos de mercadorias gravura de duas fileiras de escravos carregando um tonel suspenso por cordas



Nicolas Antoine Taunay (1755-1830) 


Foi, assim como Debret, um importante pintor e ilustrador. Registrou alguns momentos da campanha de Napoleão Bonaparte. Com o fim do império napoleônico, veio ao Brasil com a Missão Francesa em 1816. Atuou como professor de pintura de paisagem na Academia Imperial de Belas Artes. Por divergências com a administração da Academia, retornou à França em 1821.


quadro da Vista da Baía do Rio de Janeiro de Nicolas Taunay
Vista da Baía do Rio de Janeiro, a partir do Morro de Santo Antônio, Nicolas Taunay, 1816,
Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro


Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny (1776-1850) 


quadro de Montigny por Augusto Muller
Montigny, por Augusto Muller
Arquiteto e urbanista, formou-se pela École d'Architetucture [Escola de Arquitetura] de Paris. Foi um profissional influente no império napoleônico. Com a derrocada de Napoleão, Grandjean de Montigny aceitou o convite para integrar o grupo de franceses que viriam ao Brasil. Atuou na Academia Imperial como professor de arquitetura. Permaneceu no País até sua morte e deixou como obras, na cidade do Rio de Janeiro, o edifício da Praça do Comércio, atual Casa França Brasil; o Solar Grandjean de Montigny, no bairro da Gávea; e a Academia Imperial de Belas Artes, da qual só permaneceu o portal, hoje instalado no Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro.


Obras de Montigny


foto do portal da Academia de Belas Artes com porta em arco no primeiro pavimento e colunas no segundo pavimento no estilo clássico
Portal da Academia de Belas Artes
fotografia da atual casa França Brasil
Antiga Praça do Comércio, atual Casa França-Brasil


Outros componentes da Missão ao Brasil

Além dos já citados acima o grupo tinha os discípulos de Montgny Charles de Lavasseur e Louis Ueier, Auguste Marie Taunay, escultor, Charles-Simon Pradier, gravador, François Ovide, mecânico, Nicolas Magliori Enout, serralheiro, Pelite e Fabre, peleteiros, Louis Jean Roy e seu filho Hypolite, carpinteiros, François Bonrepos, auxiliar de escultura, e Félix Taunay, filho de Nicolas-Antoine, ainda apenas um jovem aprendiz. 

Acrescenta-se ainda, os nomes de Sigismund Neukomm, músico; e Pierre Dillon, secretário de Lebreton, Marc Ferrez, escultor  e Zéphyrin Ferrez, gravador de medalhas.´

III - O trabalho  da Missão Artística


Em 12 de junho de 1816, Lebreton elaborou um memorando para o Conde da Barca onde propôs instaurar uma nova metodologia de ensino através da criação de uma escola superior de belas-artes com disciplinas sistematizadas e graduadas.

Mas a realidade contradisse suas expectativas. Embora com o apoio real, a missão encontrou resistência entre os artistas nativos, ainda seguidores do barroco, e ameaçavam a posição de mestres portugueses já estabelecidos. A verdade é que os franceses foram recebidos como importunos tanto por portugueses quanto por brasileiros. 

A rainha dona Maria I faleceu em 1816, e o projeto de modernização da capital avançava lentamente. O governo central tinha muitas outras preocupações a atender - o acompanhamento da instável situação na Europa, uma revolução em Pernambuco, as constantes demandas administrativas internas, o alto custo de manutenção da corte, uma recessão provocada pela drástica queda no preço internacional do açúcar e do algodão, uma grave seca no Nordeste que desestruturou a economia regional, e os conflitos de fronteira no sul na Questão Cisplatina, subtraindo recursos e atenção do projeto cultural francês. 


Revolução Pernambucana de 1817


A chamada Revolução Pernambucana, também conhecida como Revolução dos Padres, foi um movimento emancipacionista que eclodiu em 6 de março de 1817, na então Capitania de Pernambuco, no Brasil.
quadro Benção das Bandeiras, de Antônio Parreiras
Benção das Bandeiras, pintura de Antonio Parreiras
Dentre as suas causas, destacam-se a influência das ideias Iluministas propagadas pelas sociedades maçônicas, a crise econômica regional, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e seu séquito recém-chegados ao Brasil — o Governo de Pernambuco era obrigado a enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários, comidas, roupas e festas da Corte, o que ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando grande descontentamento do povo brasileiro.


Foi o único movimento separatista do período colonial que ultrapassou a fase conspiratória e atingiu o processo revolucionário de tomada do poder.

Falecimento do Conde da Barca e as implicações no Projeto


O principal e um dos únicos verdadeiros incentivadores do projeto, o Conde da Barca, faleceu no ano seguinte, o contrato dos artistas foi posto em discussão e o cônsul francês no Brasil, coronel Maler, não via com bons olhos a presença de bonapartistas, sendo mais tarde acusado por Taunay de ser o principal entrave ao bom desenvolvimento do projeto.

Enquanto a Escola não era instalada definitivamente, ficando à mercê das oscilações políticas e sofrendo modificações no projeto original, sucumbindo, como lamentava Debret, aos "aos erros e vícios do ancien régime", os artistas sobreviviam da pensão que lhes concedera o governo, e ocupavam-se aceitando encomendas de retratos e organizando festas suntuosas para a corte, ao lado das aulas que conseguiam ministrar nas precárias condições em que se achou o projeto nos primeiros anos.


quadro da Marquesa de Belas por Taunay
Marquesa de Belas, 1816, Taunay
quadro de Dom João VI em vestes imperiais por Debret
Dom Joao VI, obra de Debret

O próprio grupo enfrentava dissidências internas, lutas pelo poder, e Lebreton foi acusado de favorecimentos indevidos e má administração, e teve de se isolar de todos, falecendo em seguida, em 1819. Como seu sucessor, foi nomeado o português, professor de desenho, Henrique José da Silva, artista conservador, ferrenho crítico dos franceses. O seu primeiro gesto foi liberar os franceses de suas obrigações como professores. 

Tantas foram as dificuldades que Nicolas-Antoine Taunay abandonou o país em 1821 (ano da morte de Napoleão), deixando para trás o seu filho, Félix Taunay. Pouco depois, o Taunay escultor também faleceu, desfalcando ainda mais o grupo primitivo, do qual foram efetivamente aproveitados pelo governo apenas cinco integrantes: Debret, Nicolas Taunay, Auguste Taunay, Montigny e Ovide.

Passaram dez anos antes de a Missão dar seus primeiros frutos significativos com a inauguração, em 5 de novembro de 1826, com a presença de dom Pedro I, da Academia Imperial. Em 1831, Debret também retornou à França



IV - A Academia Imperial de Belas Artes e o Legado da Missão Artística Francesa


 a) Programa de Ensino


O programa de ensino foi delineado por Lebreton, conforme atesta um memorando seu enviado ao rei em 12 de junho daquele ano. Nele o autor divide o ciclo de aprendizado artístico em três etapas, a partir do sistema consagrado pela Academia Francesa: 

  • Desenho geral e cópia de modelos dos mestres, para todos os alunos;
  • Desenho de vultos e da natureza, e elementos de modelagem para os escultores;
  • Pintura acadêmica com modelo vivo para pintores; escultura com modelo vivo para escultores, e estudo no atelier de mestres gravadores e mestres desenhistas para os alunos destas especialidades.
Para a arquitetura haveria também três etapas divididas em teóricas e práticas:

Na teoria:
  • História da arquitetura através de estudo dos antigos;
  • Construção e perspectiva;
  • Estereotomia.

Na prática:
  • Desenho;
  • Cópia de modelos e estudo de dimensões;
  • Composição.

Paralelamente Lebreton sugeria ainda o ensino da música, bem como sistematizava o processo e critérios de avaliação e aprovação dos alunos, o cronograma de aulas, sugeria formas de aproveitamento público dos formados e projetava a ampliação de coleções oficiais com suas obras, discriminava os recursos humanos e materiais necessários para o bom funcionamento da Escola, e previa a necessidade da formação de artífices auxiliares competentes através da proposta de criação paralela de uma Escola de Desenho para as Artes e Ofícios, cujo ensino seria gratuito mas igualmente sistemático


b) Primeiros frutos


Alguns dos primeiros alunos da escola também acabaram se destacando e perpetuando o ideal primitivo, entre eles Simplício de Sá e José de Cristo Moreira, portugueses; Afonso Falcoz, francês; Manuel de Araújo Porto-Alegre, Francisco de Sousa Lobo, José dos Reis Carvalho, José da Silva Arruda e Francisco Pedro do Amaral, brasileiros. 

Após a Independência do Brasil, em 1822, a escola passou a ser conhecida como Academia Imperial das Belas Artes e, mais tarde, como Academia Imperial de Belas Artes. A instituição foi definitivamente instalada em edifício próprio, projetado por Montigny, em 5 de novembro de 1826, sendo inaugurado por Dom Pedro I. 


c) Primeira exposição


A Academia foi responsável pela primeira exposição de Artes realizada no país, a Exposição da Classe de Pintura Histórica, instalada em 1829. Essa exposição havia sido determinada pelo Imperador, por Aviso Ministerial de 26 de Novembro de 1828.



quadro de Dom Pedro I
Dom Pedro I - Simplício de Sá
Entre as obras destacavam-se, na seção de pintura, Debret, com dez quadros, entre os quais A Sagração de D. Pedro I, O Desembarque da Imperatriz Leopoldina e Retrato de D. João VI; Félix Taunay, com quatro paisagens do Rio de Janeiro; Simplício de Sá, com alguns retratos; Cristo Moreira, com figuras históricas, marinhas e paisagens; Francisco de Sousa Lobo, com retratos e figuras históricas; Reis Carvalho, com marinhas, quadros de flores e frutas; Silva Arruda, com estudos; Afonso Falcoz, com estudos de cabeça, retratos, esboços e desenhos; João Clímaco, com estudos de desenho; e Augusto Goulart, com desenhos e estudos anatômicos.

d) Apogeu 


A Academia se consolidava, antigos alunos se tornavam mestres e muitos outros estrangeiros foram atraídos para seu círculo, dinamizando a vida cultural do Rio de Janeiro e, por extensão, de todo o Império. Dentre todas as especialidades artísticas, neste período a pintura de temas históricos se tornou a mais prestigiada, seguida pelos retratos oficiais e só depois pelos outros temas, como a paisagem e a natureza-morta, numa hierarquização de categorias que estava ligada a preceitos essencialmente morais e educativos típicos do Academismo.

Os frutos mais brilhantes desta verdadeira revolução cultural centrada na AIBA surgiram nas duas décadas finais do Império, primeiro através da obra de Victor Meirelles e Pedro Américo, e logo após com as de Almeida Júnior, Rodolfo Bernardelli e Rodolfo Amoedo, além do grupo de paisagistas reunido em torno do alemão Georg Grimm. 


Destacando-se entre o grande número de artistas então em atividade, Meirelles e Américo são os maiores vultos de sua geração, criadores de obras que permanecem até hoje vivas na memória coletiva nacional. Do primeiro são A Primeira Missa no Brasil (1861), a Batalha de Guararapes (1879), o Combate Naval do Riachuelo (1882-83) e Moema (1866), e do segundo, A Fala do Trono (1872), A Batalha de Avaí (1877), O Grito do Ipiranga (1888) e Tiradentes Esquartejado (1893).


quadro da primeira missa no Brasil por Victor Meirelles
Primeira Missa, Victor Meireles
quadro do Grito da Independência por Pedro Américo
Independencia, Pedro Américo


Embora menos conhecidos pelo grande público, outros citados também deixaram algumas obras emblemáticas. Amoedo foi autor de O Último Tamoio (1883), um ícone do indianismo, e Almeida Júnior, de O Derrubador Brasileiro (1879), O Descanso do Modelo (1882), Caipira Picando Fumo (1893) e O Violeiro (1899), fixando tipos interioranos e cenas da vida urbana.


V - Referências


Missão Artística Francesa - Wikipedia

Academia Imperial de Belas Artes - Wikipedia




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Os Papangus e a tradição na cidade de Bezerros

I - Os Papangus no Nordeste


Figura folclórica nordestina, os papangus eram homens fantasiados com túnicas que os cobriam dos pés à cabeça. Na cabeça havia um capuz com abertura apenas para os olhos e a boca. Todas as crianças da época (anos 50), morriam de medo dos papangus. Esse post tem a finalidade de fazer a divulgação cultural dessa tradição.




foto dos papangus fantasiados com uma roupa vermelho atrás e xadres vermelho e branco na frente e máscara branca
papangus de Bezerros, foto de autor  não identificado




II - Histórico (Transcrito integralmente do site www.onordeste.com)

Origens


O diário do Nordeste publicou em seu site www.onordeste.com, que:

Existem várias versões que contam a origem de uma tradição centenária: Os papangus do carnaval de Bezerros, cidade localizada no agreste Pernambucano.

Segundo o professor Ronaldo J. Souto Maior, fundador do Instituto de Estudos Históricos, Arte e Folclore dos Bezerros, a origem dos Papangus de Bezerros data de 1881. 

O papa-angu nasceu de uma brincadeira de familiares dos senhores de engenhos, que saiam mascarados e mal vestidos para visitar os amigos nas festas de entrudo (antigo carnaval do século dezenove) e comiam angu, comida típica do agreste pernambucano. Por isso, as crianças passaram a chamar os mascarados de papa-angu. 


foto de papangus com roupas de bolinhas, cartola preta e máscara branca
foto de Felipe Branco Cruz / UOL


Há versões populares sobre a origem desses personagens no carnaval de Bezerros. Uma, vem de uma história muito antiga: dois irmãos que comiam muito angu resolveram cortar as pernas das calças e cobrir o rosto com capuz para não serem reconhecidos, mas o disfarce não funcionou. Foram descobertos pela gula. Outra, é que, no século 19, os mascarados ganharam esse nome depois que uma senhora resolveu preparar angu de xerém para alimentá-los. 

Segundo contam os moradores mais antigos de Bezerros, a brincadeira começou quando alguns homens quiseram brincar o carnaval sem serem reconhecidos, para despistar a atenção de suas esposas. A brincadeira foi pegando e a cada ano aumenta o número de mascarados nas ruas.


foto de papangus com roupas vinho, camisa verde e máscara branca
Papangus de Bezerro, foto: FolhaPe


As máscaras


Antigamente o papangu tinha a máscara confeccionada com coité (cuia do fruto) ou com jornal e goma, cuja pintura era feita com azeitona preta, açafrão e folha de fava. Possuía chocalhos ao redor da roupa, que era enfeitada com palha de banana e na mão levava um maracá de coco seco com pedra dentro, trajavam roupas velhas, rasgadas com remendos e meias nas mãos, por isso eram conhecidos como Papangus Pobres.

A história foi mudando e a partir dos anos 60, as roupas velhas foram substituídas por caftas ou túnicas compridas e estampadas, que vestem dos pés à cabeça, colocam as máscaras para ficarem totalmente cobertos, pois a meta é se esconder, ganhando a farra sem ser identificados. Atualmente, a matéria-prima usada nas máscaras é o papel colê e machê.

foto de vários papangus com fantasias diferentes mas dentes proeminentes
foto Leonardo Rodrigues / UOL


A principal regra desta importante tradição carnavalesca é manter o sigilo sobre as máscaras que serão usadas, para que ninguém venha a ser reconhecido. Então, quando vai chegando à época próxima do carnaval, os foliões procuram confeccionar suas fantasias em segredo, para não correrem o risco de ser desmascarados antes da festa. Outros pontos foram mantidos: a troca de roupa em lugares desconhecidos, às "visitas" aos amigos e, antes de cair na folia, o costume de comer angu, que é normalmente fornecido pelos moradores locais.


O Papangu de Bezerros



A consolidação da tradição veio em 1990 quando a cidade de Bezerros surgiu no cenário nacional e ficou conhecida como a Terra do Papangu. Em Bezerros, a cultura do papangu é vivenciada durante o ano inteiro, através das oficinas de máscaras, da culinária desenvolvida com variados pratos feitos com angu, além das oficinas de dança e música carnavalesca.


foto de rua de Bezerros com muita gente fantasiada na rua
foto de Felipe Branco Cruz / UOL





III - Onde fica Bezerros, Pernambuco


Situada a 110 Km de Recife, com uma população em torno de 60.000 habitantes,  o município de Bezerros é formado pelos distritos sede: Encruzilha, Sapucarana e Boas Novas e pelos povoados de Serra Negra, Sítio dos Remédios, Cajazeiras e Areias.


Mapa com localização de Bezerros


A origem de Bezerros data de 20 de maio 1870. Nessa época foi implantado um grande comércio de gado, iniciando o povoamento do local. Algumas versões da história de Bezerros tentam explicar o nome da cidade. A primeira diz respeito ao sobrenome da família Bezerra, que foi a primeira proprietária das terras. A segunda diz que o local foi, primitivamente, uma queimada de bezerros. A terceira conta que um dos filhos da família Bezerra se perdeu na reserva florestal no dia 18 de Maio, tendo sido feita uma promessa a São José, sendo a criança encontrada com vida dois dias após seu sumiço, ou seja, dia 20 de Maio, ao pé de frondosa árvore onde foi erguida uma Capela sob a invocação de São José dos Bezerros.

A economia do município consiste na agricultura, sendo um dos maiores produtores de tomate do Estado; na indústria destacam-se suas fábricas de bolos. Bezerros destaca-se também nas fabricas de doces. 

Carnaval de Bezerros é o 3º mais procurado e visitado de todo o estado de Pernambuco. Também conhecida como a terra do Papangu.


IV - Referências


- O texto desse post referente aos "Papangus de Bezerros" foi resumido do site www.onordeste.com. Os dados referentes ao municipio de Bezerros veio da Wikipedia.com

- Fotos são do UOL carnaval (Felipe Branco e Leonardo Rodrigues) e da FolhaPe. 

Obs: A primeira foto não consegui identificar o autor pois ela não está mais disponível na publicação original do UOL. Caso tenhamos errado na autoria de alguma foto faremos a correção quando identificado. Se algum autor também não quiser a sua publicação, a retiraremos assim que notificado.