Páginas

quarta-feira, 27 de abril de 2016

As Livrarias mais bonitas do Mundo II - Livraria Lello e Irmão, Porto

I - Livraria do Lello e Irmão  


A Livraria Lello e Irmão, situa-se na Rua das Carmelitas 144, na freguesia da Vitória da cidade do Porto, em Portugal.

Em virtude do seu  valor histórico e artístico, a Lello tem sido reconhecida como uma das mais belas livrarias do mundo por diversas personalidades e entidades, casos do escritor espanhol Enrique Vila-Matas, do jornal britânico The Guardian e da editora australiana de guias de viagens Lonely Planet. (wikipedia)


As fotos que exponho aqui foram adquiridas de sites oficiais de fotógrafos. 


foto da fachada da Livraria Lello Porto
       Livraria do Lello é o pequeno edifício branco - Rua das Carmelitas, 144 - Porto


Projetado pelo engenheiro Xavier Esteves, a Livraria Lello é um edifício bastante representativo do neogótico da cidade do Porto, e traz um certo destaque com relação aos outros edifícios que o cercam. No conjunto da livraria, a arquitetura e a decoração deixam transparecer o estilo dominante do início de século XX.

A fachada apresenta um arco abatido de grandes dimensões, com entrada central e duas vitrines laterais. Acima, três janelas retangulares são ladeadas por duas figuras pintadas por José Bielman, representando a "Arte" e a "Ciência". A decoração é complementada por motivos vegetais, formas geométricas e a designação "Lello e Irmão", sob as janelas.


II - Histórico 


A empresa remonta à fundação da "Livraria Internacional de Ernesto Chardron", em 1869, na Rua dos Clérigos, n.º 96-98, no Porto. Antigo empregado da Livraria Moré, o cidadão francês Ernesto Chardron alcançou projeção como editor, sendo o primeiro a publicar grande parte das obras de Camilo Castelo Branco e outras de relevo na época.

Em 1881 José Pinto de Sousa Lello abriu um estabelecimento, nos números 18-20 da Rua do Almada, dedicando-se ao comércio e edição de livros. A 30 de junho de 1894 Mathieux Lugan vendeu a antiga Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello. 

Com projeto do engenheiro Francisco Xavier Esteves, no dia 13 de janeiro de 1906 inaugurou-se o novo edifício da Livraria Lello, no número 144 da Rua das Carmelitas, causando grande impacto no meio cultural da época.

A 24 de maio de 1919, a razão social do estabelecimento foi alterada para "Livraria Lello e Irmão, Ltda."

Com o objetivo de se adaptar aos tempos presentes, a livraria modernizou-se, criando-se uma nova sociedade — Prólogo Livreiros, S.A. —, da qual faz parte um dos herdeiros da família Lello. Todo o espaço foi restaurado em 1995, o serviço foi atualizado e informatizado, tendo também sido criado um espaço de galeria de arte e de tertúlia que se tem afirmado como um importante polo cultural da cidade do Porto.

A partir de 23 julho de 2015 a entrada na livraria passou a ter um custo de três euros, que são descontados na compra de livros. Esta taxa destina-se a conter o número elevado de turistas que lá vão (mais de mil por dia), e também para facturar, porque, no futuro, a Livraria terá de custear obras de restauro.  Em consequência da aplicação desta taxa, em apenas três meses, as vendas da Lello triplicaram.


 foto da andar superior da livraria Lello


III - Características Internas


No interior, os arcos quebrados apoiam-se nos pilares em que, sob baldaquinos rendilhados, o escultor Romão Júnior esculpiu os bustos dos escritores Antero de Quental, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro. 

Escadaria


As escadarias da Lello também são conhecidas por ser a inspiração das escadas de Hogwarts nos livros de Harry Potter, já que J.K. Rowling chegou a morar na cidade do Porto.


 foto da escadaria da Livraria


Vitral


Os tetos trabalhados, o grande vitral que ostenta o monograma da livraria "Decus in Labore", aliados a escadaria de grandes dimensões são as marcas mais significativas da livraria.


foto do vitral do Teto


IV - A minha experiência na Lello


O que você diria de uma livraria onde logo ao chegar você prepara o celular para tirar uma foto e o dono e seus auxiliares te dizem que é proibido. Aí você circula pelas estantes escolhe um monte de livros e quando vai pagar escuta a conversa do dono com um cliente japonês e ele está dizendo que não aceita cartão de crédito. Ao ser questionado, o dono explica que não aceita porque não vai dar dinheiro para a administradora de cartões ganhar sem trabalhar. Quando perguntado se isso não afasta clientes, ele responde que "tem cento e cinquenta anos que funciona assim e é assim que vai continuar".


Bem essa foi a minha experiência na livraria do Lello. Eu não sabia que ela era famosa e entrei porque gosto de livros e livrarias. Não saí com raiva do dono por causa do cartão, entretanto, fiquei frustrado porque não pude comprar mais livros e tirar fotos da livraria que realmente é uma das mais bonitas do mundo.

V - Referências a Lelo


A livraria Lello é frequentemente mencionada e homenageada nos mais diversos meios de comunicação. Vejamos algumas delas:

  • O escritor espanhol Enrique Vila-Matas descreveu-a como "A mais bonita livraria do mundo".

  • O jornal inglês The Guardian, em 2008, considerou-a a terceira mais bela domundo. 
  • A editora australiana de guias de viagens Lonely Planet, no seu guia Lonely Planet's Best in Travel 2011, considerou-a como a terceira melhor livraria do mundo, sendo descrita como "uma pérola de arte nova", destacando as "prateleiras neo-góticas" e a "escadaria vermelha em espiral" semelhante a "uma flor exótica".
  • A revista Travel + Leisure, em janeiro de 2015, colocou a Lello, no Porto, no topo da lista das 15 livrarias mundiais mais estilosas, referindo que o átrio coloca o enfoque na escadaria encarnada, "espetacular o suficiente para te fazer parar". 
  • A Revista «Time» considerou a livraria uma das 15 livrarias mais interessantes do mundo, salientando o valor histórico e artístico da livraria portuguesa.
  • A CNN, em 2014, considerou-a a livraria mais bonita do mundo.
  • Em 2016, o ministro da Cultura, João Soares, disse no Porto que a Cultura pode ser motor de desenvolvimento e afirmação no plano comercial para Portugal e apontou a histórica Livraria Lello como bom exemplo.

VI - Fontes


Texto: wikipedia em português - Livraria Lello e Irmão
Fotos: www.shutterstock.com
Observações: Notas de Viagem - HistoriacomGosto



quarta-feira, 20 de abril de 2016

Guernica - Pablo Picasso (Museu Rainha Sofia, Madrid)

I - Guernica


Guernica é um painel pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da Exposição Internacional de Paris. Foi exposto no pavilhão da República Espanhola. Medindo 350 por 782 cm, esta tela pintada a óleo é normalmente tratada como representativa do bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937, por aviões alemães apoiando o ditador Francisco Franco. Atualmente está no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid na Espanha.  


 foto do quadro Guernica
                                    foto do quadro: site do museu 
         https://www.museoreinasofia.es/en/collection/artwork/guernica

II - Crônica "Guernica" - (Museu La Reina Sofia)


Uma descrição precisa de uma situação cruel, dramática, Guernica foi criado para fazer parte do Pavilhão da Espanha na Exposição Internacional de Paris, na exibição de 1937. 

A motivação de Pablo Picasso para pintar esta grande obra foi a notícia do bombardeio aéreo alemão da cidade basca que dá nome ao quadro e que o artista tinha visto nas fotografias dramáticas publicadas em vários periódicos, inclusive o jornal francês L'Humanité. (Guerra civil espanhola)

Apesar disso, nem os estudos, nem a imagem acabada contém uma única alusão a um evento específico, constituindo por sua vez um apelo genérico contra a barbárie e terror da guerra. A enorme imagem é concebida como um cartaz gigante, testemunho para o horror que a guerra civil espanhola estava causando e um prenúncio do que estava por vir na Segunda Guerra Mundial. 

As cores suaves, a intensidade de cada um dos motivos e a forma como eles se articularm são essenciais para a tragédia extrema da cena, que se tornaria o emblema para todas as tragédias devastadoras da sociedade moderna. Guernica tem atraído um número de interpretações controversas, sem dúvida, devido em parte ao uso deliberado na pintura de apenas tons acinzentados. 

Analisando a iconografia na pintura, um erudito no Guernica , Anthony Blunt, divide os protagonistas da composição piramidal em dois grupos: 

- O primeiro dos quais é composto de três animais; o touro, o cavalo ferido e o pássaro alado que pode apenas ser vislumbrado em segundo plano, à esquerda. 

- O segundo grupo é composto pelos seres humanos, e que consiste de um soldado morto e um número de mulheres: a que está no canto superior direito  segurando uma lâmpada e inclinando-se através de uma janela, a mãe do lado esquerdo, lamentando enquanto segura seu filho morto, uma correndo pela direita e, finalmente, aquela que está clamando aos céus, com os braços levantados como se tivesse uma casa a arder atrás dela. 

Incidentes da vida privada de Picasso e os acontecimentos políticos que afligiam a Europa entre as guerras, fundiram-se juntos nos motivos que o pintor estava usando no momento, resultando tanto em Guernica em si mesmo como em todos os estudos e 'postscripts'.

Guernica faz parte das obras de arte mais representativas do século 20.

Escrito por: Paloma Esteban Leal
https://www.museoreinasofia.es/en/collection/artwork/guernica


foto da entrada do Museu rainha Sofia em Madrid
Luis García (Zaqarbal) em wikimedia commons



III - A Guerrra Civil Espanhola  


Para uma melhor compreensão do quadro introduziremos um resumo do ambiente político da Espanha no período que iniciou com a derrubada dos Bourbons por Napoleão Bonaparte em 1808 até a conflagração da guerra civil em 1936.


a) Precedentes


foto da capa do romance A Guerra Civil Espanhola  A derrubada temporária dos Bourbons absolutistas por Napoleão Bonaparte, em março de 1808, a Guerra de Independência contra a ocupação francesa, a abertura das Cortes de Cádis, em 1810, e a proclamação da Constituição liberal de 1812 assinalam o desaparecimento do Antigo Regime espanhol



Durante todo o século XIX e o início do século XX, no entanto, a Espanha não conseguiu completar, política e socialmente, a sua revolução burguesa de forma a produzir uma institucionalidade liberal-democrática estável.


O século XIX espanhol foi um período especialmente conflituoso, com lutas entre liberais e absolutistas, entre membros rivais da Casa de Bourbon (isabelinos e carlistas), e mais tarde entre monarquistas e republicanos, sobre o pano de fundo da perda das colônias americanas e filipinas.

A economia espanhola teve um crescimento rápido, desde o final do século XIX até ao início do século XX. Em especial, as indústrias mineiras e metalúrgicas lucraram e expandiram-se enormemente durante a Primeira Guerra Mundial, fornecendo insumos a ambos os lados em disputa.

Entretanto, os resultados desse crescimento não se refletiram em mudanças nas condições sociais. A agricultura, sobretudo na Andaluzia, continuou em mãos de latifundiários, que deixavam grandes extensões de terra sem cultivar. Somava-se a isto a forte presença da Igreja Católica, que se opunha às reformas sociais e se alinhava aos interesses da elite agrária. Finalmente, a monarquia espanhola apoiava-se no poder militar para manter o regime. O fim da monarquia e o advento da república, em 1931, em nada mudou esta configuração política básica, com a agravante de que Igreja e Exército se mantiveram monárquicos e as tentativas de golpe tornaram-se constantes.

Com o crescimento da economia, cresceu também o movimento operário. Após a fundação da primeira sociedade operária em Barcelona (1840), o movimento cresceu e se espalhou pelo país. Desde o início, e principalmente na Catalunha, a principal região industrial de Espanha, o anarquismo tornou-se a tendência política mais difundida entre os trabalhadores. A principal confederação sindical, a CNT (Confederación Nacional del Trabajo), sob influência anarcossindicalista, recusava-se a participar na política partidária.

O choque entre classes é frequente e violento. Desde o fim do século XIX até o início do século XX, grupos de extermínio, como o Sindicato Libre, procuram suprimir os sindicatos através do assassinato dos seus principais militantes. Do outro lado, grupos de militantes sindicalistas, como o famoso Nosotros, também assassina religiosos e industriais suspeitos de apoiar o Sindicato Libre. Insurreições armadas, tanto de direita como de esquerda, ocorrem com regularidade.


Obs: A primeira tentativa de implantar um governo republicano foi em 1873 e durou apenas onze meses, sendo sucedida por um período de restauração dos Bourbons. A segunda tentativa veio em abril de 1931 com a instalação da Segunda República e que durou até abril de 1939 com a vitória do exército do General Franco.

fonte: texto integral da wikipedia em português - guerra civil espanhola - "Precedentes"


b) Guerra Civil 


A Guerra Civil Espanhola foi o conflito social, político e militar , que mais tarde também gerou uma crise financeira - que entrou em erupção na Espanha após o fracasso parcial do golpe de Estado, em 17 e 18 de julho de 1936 realizado por uma parte o exército contra o governo da Segunda República.

A guerra durou de julho de 1936 a abril de 1939 quando Francisco Franco declarou a vitória e instalou uma ditadura que duraria até sua morte em 1975 .

A guerra teve muitas facetas, pois incluia luta de classes, guerra religiosa , choque de nacionalismos opostos, luta entre ditadura militar e democracia republicana, luta entre revolução e contra-revolução e  entre fascismo e comunismo.  

A guerra dividiu a Espanha geograficamente, intelectualmente e espiritualmente devido ao extenso mosaico de aspectos em conflito. 

As partes do conflito são muitas vezes chamado Lado Republicano e Lado Nacionalista :


O lado republicano foi construído em torno do governo democraticamente eleito, formado pela Frente Popular, que por sua vez consistia de uma coligação de vários partidos republicanos como Esquerda Republicana, União Republicana,  Partido Socialista Operário Espanhol,  Partido Comunista de Espanha, o Partido Socialista de origem anarquista e na Catalunha com Esquerda Republicana de Catalunya. Havia ainda o partido Nacionalista Basco cuja região estava  prestes a ganhar autonomia.


O lado rebelde, que se chamava o lado nacional, foi organizado em torno de parte do alto comando militar, que teve logo após um breve início a nomeação de Francisco Franco como Generalíssimo e Chefe do Governo do Estado. Politicamente, consistiu na fascista Falange Espanhola, os carlistas , imperadores monarquistas de Renovação Espanhol. Socialmente foi apoiado por classes cuja posição vitória eleitoral da Frente Popular colocou em perigo; pela Igreja Católica, assolada por perseguição religiosa desencadeada pelo  conflito; por aqueles com medo de revolução do proletariado, e também por muitas pessoas de classe baixa de fortes convicções religiosas.  

A guerra foi vencida pelos nacionalistas pela força de seu exército e também pelo maior apoio estrangeiro de Itália e Alemanha. A itália enviou tropas terrestres e a Alemanha força aérea, inclusive a que bombardeou covardemente a cidade civil de Guernica. No lado republicano, o apoio da União Soviética foi mais moderado pois Stalin naquela época não queria se envolver em um conflito no qual poderia sair derrotado desmoralizando a revolução soviética.

As consequências da guerra civil em grande parte, marcaram a história da Espanha, de forma tão excepcionalmente dramática e duradoura que várias feridas permanecem abertas até os dias atuais. Desastres de ordem tanto demográfica com a morte de pessoas eliminando gerações, como com a de perdas materiais com a destruição de cidades, desmantelamento da estrutura económica, e perda de grande parte do património artístico e cultural de uma forma geral. 

Estima-se que morreram no conflito em torno de 400.000 pessoas.

fonte: texto resumido da wikipedia em espanhol - Guerra civil espanhola


III - A Guernica em sua realidade



a) A cidade

Guernica y Luno (ou Gernika-Lumo) — é um município da Espanha na província da Biscaia, comunidade autónoma do País Basco com cerca de 17.000 habitantes em 2013.


b) O Bombardeio de Guernica

O Grande Bombardeio de Guernica em 26 de abril de 1937 foi um ataque aéreo por aviões alemães da Legião Condor durante a Guerra Civil Espanhola no País Basco.

Coordenado por Wolfram von Richthofen e com suporte do Corpo Truppe Volontarie o ataque destruiu a maior parte da localidade, na época com 5 000 - 7 000 habitantes, causando centenas de vítimas.  Estimativas modernas avaliaram o número de mortos em torno de 300 a 400, todos civis. 

O ataque, que serviu também para testar aviões de guerra alemães e ganhar experiências no combate aéreo, apoiou as forças de Francisco Franco que invadiram a cidade poucos dias depois do bombardeio. 

O painel Guernica, pintado por Pablo Picasso em 1937, é normalmente tratada como representativa do bombardeio sofrido pela cidade de Guernica.




foto real da cidade de Guernica após o bombardeio
               Guernica após o Bombardeio - foto: Associated Press


IV - Referências


Site do museu Reina Sofia: 
https://www.museoreinasofia.es/en/collection/artwork/guernica
wikipedia em português: Guernica

Wikipedia: Historia da Espanha, Guerra civil espanhola, Anarquismo, Associação Internacional dos Trabalhadores.

Historia Concisa da Espanha - William D. Phillips Jr e Carla Rahn Phillips

terça-feira, 19 de abril de 2016

A Balsa da Medusa - Géricault

I - Histórico


A Balsa da Medusa é uma pintura a óleo sobre tela, realizada entre 1818 e 1819 pelo pintor e litógrafo romântico francês Théodore Géricault (1791-1824).

Seu título original dado por Géricault em sua primeira apresentação, é "Palco de um Naufrágio". Esse quadro de grandes dimensões ( 491 cm de altura e 716 cm de largura), representa um episódio trágico na história da marinha francesa: o afundamento da fragata Medusa, que encalhou em um banco de areia ao largo da costa da atual Mauritânia, em 02 de julho de 1816. 


 quadro A Balsa da Medusa de Gericault mostrando uma balsa naufragando no mar com pessoas desesperadas nela
A Balsa da Medusa, Gericault, 1818 a 1819, Museu do Louvre, Paris


Pelo menos 147 pessoas se jogaram  na superfície da água, prendendo-se a uma jangada improvisada construída com material da fragata. Desses, apenas quinze embarcaram em 17 de julho a bordo do Argus, um barco que veio  resgatá-los. 

Dos quinze, cinco pessoas morreram logo após a sua chegada em Saint-Louis, Senegal, depois de terem suportado fome, desidratação, loucura e até mesmo canibalismo.

O evento se tornou um escândalo em escala internacional, em parte porque um capitão francês que servia a monarquia restaurada recentemente, foi considerado responsável pelo desastre, devido à sua incompetência.

II- Fundamento Histórico



Em 1815, houve a segunda restauração da monarquia com o retorno de Luís XVIII ao trono da França. Os britânicos então entregam o Senegal para França pelo Tratado de Paris. Em 17 de junho de 1816, a fragata Medusa parte da ilha de Aix, para o porto senegalês de St. Louis.

Sua missão é ir endossar essa restituição. Ela leva uma frota composta por três outros barcos. A bordo estão 400 passageiros, incluindo o coronel Julien Schmaltz, governador do Senegal, acompanhado por sua esposa, a rainha e sua filha, assim como cientistas, soldados e colonos.

O comandante Hugues Duroy de Chaumareys, um visconde que voltava do exílio, foi nomeado capitão da Medusa apesar do fato de que ele não navegava havia mais de vinte anos. Querendo chegar à frente dos outros três navios, a fragata se desvia do seu curso e, assim, deixa o percurso planejado. 

Em 02 de julho de 1816 a Medusa encalhou na Banc d'Arguin, distando 160 quilômetros da costa da Mauritânia. A equipe construiu uma jangada com longarinas (montada por cordas, em que são pregadas tábuas que formam uma passagem escorregadia e instável) para aliviar a fragata de seus produtos pesados.

A Operação de desencalhe foi inútil: Vários danos ocorrem em 05 de julho e o mar começa a torna-se bravio, fazendo necessária a evacuação: 

- Dezessete marinheiros permanecem a bordo da fragata para tentar trazê-la de volta em segurança. 

- 233 passageiros, incluindo Chaumareys, Schmaltz e sua família embarcaram em seis canoas e barcos para ganhar o continente que estava a 95 km de distância. 

- 149 marinheiros e soldados, incluindo uma mulher, são empilhados na balsa improvisada não planejada para transportar pessoas. Incapaz de realizar qualquer manobra, a balsa é amarrada em quatro canoas e barcos a remos. Ao longo de vinte metros de largura e sete de largura, ela corre o risco de ser esmagada quando totalmente carregado. Apesar disso os oficiais responsáveis ​​decidem partir.

O abandono


O comandante  Chaumareys decidiu abandonar à sua sorte os passageiros da balsa, com suas parcas rações. Assume o comando o aspirante de primeira classe Jean-Daniel Coudein. As rações são apenas um pacote de biscoitos, consumido no primeiro dia, dois barris de água fresca e seis barris de vinho.

A situação  se deteriora rapidamente: Os náufragos, mergulhados no medo, lutam e acabam por derrubar os seus barris  de água doce no oceano, restando apenas os barris de vinho para saciar sua sede. No sétimo dia, existem apenas 27 sobreviventes, metade deles agonizando. Fome, raiva, desilusão, delírio etílico, fizeram com que  alguns desesperados saltassem para a água ou se envolvessem em atos de canibalismo para sobreviverem.

Os oficiais decidiram jogar os feridos para o mar para manter as rações de vinho para os homens saudáveis. Após treze dias, em 17 de julho de 1816, a balsa foi descoberta pelo barco Argus , embora nenhum esforço especial tenha sido feito para recuperá-la . Ela levou a bordo quinze sobreviventes, que após tanto desespero são suspeitos de terem matando uns aos outros jogando ao mar ou até mesmo de terem cometidos atos de canibalismo . 

A maioria dos que estavam na balsa inicialmente morreram de fome ou se lançaram para a água movidos pelo desespero. Quatro ou cinco homens resgatados, morreram  dentro de dias a bordo do Argus. De acordo com o crítico Jonathan Miles, a infelicidade vivida por estes homens na balsa do Medusa atingiu a "fronteira da existência humana". Enlouquecidos, reclusos e com fome, eles mataram aqueles que se rebelevam, comeram seus companheiros mortos e mataram os mais fracos.  No total, o afundamento causou a morte de mais de 150 pessoas.

Dos outros barcos que partiram separados,  alguns conseguiram chegar a ilha de Saint-Louis, enquanto outros encalharam ao longo da costa e perderam a tripulação por causa do calor e da falta de alimentos. 

Quando a Marinha britânica encontrou a fragata Medusa quarenta e dois dias mais tarde, apenas três dos dezessete marinheiros que permaneceram a bordo estavam vivos.


O Julgamento


Este incidente foi um embaraço para a monarquia recém-restaurada: A incompetência manifesta do comandante de Chaumareys revela muito bem que a sua nomeação foi apenas devido a sua relação com o poder.

O assunto tornou-se um escândalo na política francesa e funcionários do governo tentaram encobri-lo. Em sua corte marcial em Port de Rochefort em 1817 Chaumareys foi julgado por cinco acusações, foi absolvido de abandonar o seu esquadrão, de não conseguir voltar a flutuar com seu navio e de abandonar a balsa. No entanto, ele foi considerado culpado de navegação incompetente e complacente e de abandonar o Méduse antes de todos os seus passageiros terem sido retirados. Mesmo que este veredicto o expunha à pena de morte, Chaumareys foi condenado a apenas três anos na cadeia.  

A corte marcial foi amplamente criticada de ser fraldada e em 1818 o governador Schmaltz foi forçado a renunciar. Uma Lei posteriormente publicada passou a assegurar que as promoções no Exército francês fossem baseadas no mérito.

III - Géricault



 quadro com Gericault  Théodore Géricault, nasceu em 26 de setembro de 1791, em Rouen e morreu em 26 de janeiro de 1824, em Paris. Ele foi um pintor, escultor, desenhista e litógrafo francês que incorporou o romantismo em sua arte. Sua vida curta e atormentada gerou muitos mitos.

Nascido em Rouen , França, de família rica, Géricault foi educado na tradição inglesa de arte desportiva por Carle Vernet e na composição  clássica por Pierre-Narcisse Guérin , um classicista rigoroso que desaprovava o temperamento impulsivo do seu aluno ainda que reconhecesse o seu talento. Géricault logo deixou a sala de aula, optando por estudar no Louvre, onde em 1810-1815 copiava pinturas de Rubens , Ticiano , Velázquez e Rembrandt. Durante este período no Louvre ele descobriu uma vitalidade que sentia falta na escola predominante do Neoclassicismo.  Grande parte do seu tempo foi gasto em Versailles , onde encontrou os estábulos do palácio abertos para ele, e onde ele ganhou o seu conhecimento da anatomia e da ação de cavalos.

A primeira grande obra de Géricault, "Um caçador", foi exposta no Salão de Paris de 1812, e revelou a influência do estilo de Rubens e um interesse na representação dos assuntos contemporâneos. Este sucesso inicial foi seguido por uma mudança de direção: para os próximos  anos Géricault produziu uma série de pequenos estudos de cavalos e cavaleiros. 

Uma viagem para Florença , Roma e Nápoles (1816-1817), motivado em parte pelo desejo de fugir de um envolvimento romântico com sua tia, acendeu um fascínio com Michelangelo.

Em 1817 Gericault troca Roma por Paris. Ele desenvolveu uma admiração particular por Antoine-Gros. Delacroix, seu contemporãneo explica que Gericault também teve a admiração de Gros. "Este falava com entusiasmo e respeitava-o, ele era muito grato a seu talento, apesar de seus dois estilos serem diferentes". Especialmente nas representações de cavalos  Gros foi  mestre de Gericault. 

Em 1819 um novo salão de exposição no Louvre abre as suas inscrições. Géricault quer alcançar um trabalho de sucesso. Buscando inspiração nos jornais, ele descobre  o "caso do Medusa", um enorme desastre marítimo que a monarquia restaurada tentou sufocar.

Estupefato com a repercussão na mídia a respeito do naufrágio, Gericault pensou que a realização de um quadro sobre o evento contribuiria para estabelecer sua reputação. 

Depois de decidir realizar o quadro ele fez várias pesquisas se encontrando com dois dos sobreviventes e o relato deles influenciou enormemente a tonalidade final do quadro.
A Balsa da Medusa retrata o  último estágio da tragédia que durou treze dias.


IV - Referências


Quadro - Museu do Louvre
Fotografia - Wikipedia - Wikimedia Commons - 
Texto - Wikipedia francesa - Le Radeau de la Méduse / Théodore Géricault


segunda-feira, 18 de abril de 2016

Cafés do Mundo 4 - "A Brasileira do Chiado"

1. - Introdução


A Brasileira, ou "A Brasileira do Chiado" é um famoso café de Lisboa, localizado na Rua Garret números 120-122, no Largo do Chiado. O Café foi fundado em 19 de Novembro de 1905 por Adriano Soares Teles do Vale quando do seu retorno do Brasil.


foto do letreiro na fachada atual - A Brasileira
Café "A Brasileira", Chiado, Lisboa


2. - Histórico


O português Adriano Soares Teles emigrou para o Brasil quando era jovem. Aqui ele casou com uma filha de fazendeiros de Minas Gerais, onde ele se dedicou à fundação de um estabelecimento comercial chamado "Ao Preço Fixo" e à produção agrícola, especialmente de café, que exportava para Portugal.

Regressando para  Portugal, por motivos de saúde da primeira mulher, criou uma rede de pontos de venda do café que produzia e importava do Brasil: As famosas "Brazileiras",


 foto da fachada e do letreiro da casa A Brazileira poucos anos depois de  fundada em 1911
A Brazileira do Chiado - foto de Joshua Benoliel, 1911


Foram instaladas lojas "As Brazileiras" em Lisboa, Porto, e Braga

III - Ligações com as Artes


O fundador da rede, Adriano Soares, foi também um homem de cultura  com interesse pela música e pela pintura. Fundou a Banda de Alvarenga, financiando a compra dos seus primeiros instrumentos, e fez da Brasileira do Chiado o primeiro museu de arte moderna em Lisboa. 

Em 1908 fez uma remodelação, criando então a cafeteria.

Com as liberdades de reunião e associação após a Implantação da República Portuguesa, em 5 de Outubro de 1910, e a instalação do Diretório Republicano no Largo de São Carlos (entretanto rebatizado Largo do Directório, precisamente no 1.º andar do edifício onde nasceu Fernando Pessoa), A Brazileira tornou-se um dos cafés mais concorridos de Lisboa devido à sua proximidade.

A partir dessa época A Brazileira foi o cenário de inúmeras tertúlias intelectuais, artísticas e literárias. Por lá passaram os escritores e artistas, reunidos em torno da figura do poeta-general Henrique Rosa (tio adotivo de Fernando Pessoa), que viriam a fundar a Revista Orpheu.

Em 1925 A Brazileira passou a expor onze telas de sete pintores portugueses da nova geração, que então frequentavam o café, selecionados por José Pacheko, ele próprio um dos pintores.

Fernando Pessoa


Fernando António Nogueira Pessoa é um escritor e poeta português, nascido em Lisboa, 13 de junho de 1888 e falecido também em  Lisboa em 30 de novembro de 1935. 

Fernando Pessoa foi educado na África do Sul, numa escola católica irlandesa, e chegou a ter maior familiaridade com o idioma inglês do que com o português, escrevendo os seus primeiros poemas nesse idioma.

Enquanto poeta, ele escreveu sob diversas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Bernardo Soares.

Durante toda a sua vida em Lisboa, Fernando Pessoa foi um frequentador assíduo do café, tendo sido instalada uma estátua sua em frente ao mesmo. 

foto da escultura de Fernando Pessoa sentado em uma mesa
foto @nito
1888: Fernando António Nogueira Pessoa nasce, a 13 de Junho. É batizado em Julho.
1893: A 24 de julho, o pai morre, de tuberculose. A família é obrigada a leiloar parte dos bens.
1894: O futuro padrasto, João Miguel Rosa, é nomeado cônsul interino em Durban, na África do Sul.
1896: Em 7 de Janeiro, é concedido o passaporte à mãe, e a família parte para Durban
1905:  Parte definitivamente para Lisboa, onde passa a viver com a avó Dionísia. 
1906: Matricula-se, em Outubro, no Curso Superior de Letras. A mãe e o padrasto retornam a Lisboa e Pessoa volta a morar com eles. 
1910: Escreve poesia e prosa em português, inglês e francês.
1913: Intensa produção literária. Escreve O Marinheiro.
1914: Cria os heterónimos Álvaro de CamposRicardo Reis e Alberto Caeiro. Escreve os poemas de O Guardador de Rebanhos e também o Livro do Desassossego.
1934: Publica Mensagem.
1935: Em 29 de Novembro, é internado com cólica hepática. Morre no dia 30 do mesmo mês.

IV - Café "A Brasileira" , atualmente


Atualmente o café "A Brasileira" continua bem frequentado, e passou  a servir também pratos típicos portugueses como o Bacalhau com Legumes, entre outros. Praticamente todos os brasileiros de passagem por Lisboa dão uma passadinha pelo café.


foto do belo interior da cafeteria
                        foto de Jorg Kackemann em Shutterstock.com


- Outras fotos


foto da calçada com muitas mesas
       foto de Nito em Shutterstock.com
 foto do interior com muita gente em pé no balcão



V - Localização e vizinhanças


O chiado é um bairro bem localizado, tendo a característica  de abrigar teatros, restaurantes e sobrados antigos.


 foto de cerâmica da calçada node está escrito A Brasileira 122   120   foto de Museu no Chiado




foto de um  belo prédio no  Chiado   foto de uma instalação cultural com escadas pelo lado de fora nas paredes


VI - Outras publicações



a) Cafés do Mundo I - Café New York, Budapeste


b) Cafés do Mundo II - Confeitaria Colombo, Rio de Janeiro

c) Cafés do Mundo III - Café Florian, Veneza

d) Cafés do Mundo V - Café Tortoni, Buenos Aires


VII - Referências


Todos os textos foram consultados da Wikipedia- Café - A Brasileira, Fernando Pessoa - 

Fotos que não tenham autor especificado são de HistoriacomGosto.blogspot.com